domingo, 22 de agosto de 2010

Análise: Pan-Pacífico de Natação

Murilo Borges, um apaixonado por esportes olímpicos, assim como eu, fez um especial sobre o Pan-Pacífico, disputado na semana que passou na California, EUA.

O Pan-Pacífico foi a competição mais importante do ano para a natação brasileira. Do mesmo jeito que dizem no futebol que a EuroCopa é a Copa do Mundo sem Brasil e Argentina, podemos dizer que a cidade de Irvine, na Califórnia, recebeu o Mundial de Natação sem os nadadores da Europa.
É a primeira grande competição, depois do Europeu de Natação, em que os atletas não estão usando os trajes tecnológicos que pulverizaram praticamente todos os recordes da natação mundial nos últimos anos.

Mas vamos ao que interessa, e o que interessa é o Brasil. Muitos podem se perguntar: “Pan-Pacífico? O que o Brasil está fazendo ai?” A nossa equipe de natação é convidada para participar da competição. Aliás, o Brasil é o único país que utilizou os tempos alcançados na temporada passada, com os trajes tecnológicos, para o Pan-Pacífico, o que foi um erro na visão de muitos especialistas.

Levamos uma delegação com 42 atletas, chegamos a dezenove “Finais A”, conquistamos oito medalhas e o nosso hino foi tocados duas vezes. O Brasil continuou, assim como no Mundial em Roma, se destacando nas provas rápidas e disputada entre os homens. A natação feminina brasileira ainda está muito atrás da masculina que conseguiu o maior número de finais e medalhas para o Brasil nesta competição. Provas de 200, 400, 800 e 1.500 metros são duras com os nossos nadadores. Apenas Thiago Pereira consegue se destacar. O nosso forte são as provas curtas, de preferência de 50m, onde ganhamos os nossos dois ouros da competição.

O problema está justamente neste ponto. Das oito medalhas que conseguimos, apenas quatro foram em provas olímpicas (uma prata e três bronzes). Os 50m borboleta, 50m peito e 50m costas, nos quais conquistamos o ouro com Cielo e Felipe França, respectivamente, e bronze com a veterana Fabíola Molina não fazem parte do quadro olímpico. E pior, as provas de 100 metros nestas modalidades não conseguimos resultados expressivos.

Veja:

50 metros borboleta: Ouro com Cesar Cielo e Prata com Nicholas Santos.
100 metros borboleta: Décimo primeiro lugar com Kaio Márcio de Almeida.

50 metros peito: Ouro com Felipe França e oitava colocação para João Gomes Júnior.
100 metros peito: Sétimo lugar para Tales Cerdeira e oitavo para Felipe Lima.

50 metros costas: Bronze com Fabíola Molina.
100 metros costas: Oitavo lugar com Fabíola Molina.

A nota para a exibição do Brasil neste Pan-Pacífico é quatro. Por que uma qualificação tão baixa? Simples, ficamos atrás do Canadá e do Japão no quadro de medalhas, nas finais B nossos atletas eram na maioria das vezes os últimos, repetimos erros infantis, como a já tradicional “briga com a raia” do Guilherme Guido, não conseguimos nenhum resultado expressivo em uma prova olímpica, finalistas olímpicos, como Gabriel Mangabeira, Kaio Marcio e Gabriela Silva, não foram bem e, pior, Cesar Cielo perdeu a soberania que ostentava fazia um bom tempo nas provas de 50 e 100 metros livre.

A falta de novas mulheres na natação e de atletas capazes de competir em alto nível em provas de longa distância são preocupantes para o Brasil, que sonha em torna-se uma potência neste esporte. Para piorar, concomitantemente com o Pan-Pacífico pudemos acompanhar os nossos jovens nadadores nos Jogos Olímpicos da Juventude em Cingapura, que não conseguiram uma medalha se quer.

Mas também temos que destacar alguns pontos do Pan-Pacífico. Quatro agradáveis surpresas são de relevância importante para a natação brasileira. A perda do ouro do Cielo nos 100 metros livre ofuscou a grande atuação de Bruno Fratus, que ficou em quarto lugar, apenas 0,03s do pódio. O menino do Pinheiros está aperfeiçoando o seu nado e pode brigar por medalhas no futuro. Henrique Rodrigues e Tales Cerdeira foram bem nas suas principais provas. Arílson Silva, técnico do grande Felipe França, disse que daqui seis meses o nadador conseguirá manter o mesmo ritmo dos 50 metros peito, que o fez ser vice-campeão mundial e campeão do Pan-Pacífico 2010, nos 100 metros peito, esta sim uma prova olímpica. Por fim, vale ressaltar a inédita dobradinha brasileira nos 50 metros borboleta, na qual Cielo ficou com o ouro e Nicholas Santos com a prata.

Esquecendo um pouco o Brasil agora, os Estados Unidos foram soberanos durante toda a competição, venceram quase 70% das provas, só não conquistaram mais medalhas que todos os outros países juntos, pois havia a regra de apenas dois nadadores por nacionalidade nas “finais A”. A grande verdade é que a competição só foi boa para os americanos. Australianos, japoneses, canadenses, brasileiros, chineses e sul-africanos têm pouco a comemorar.

Curiosidades:

- Havia um narrador oficial do evento. Ele deu um show a parte. Antes de toda final ele fazia uma contagem regressiva com o público, entrevistas e animava a torcida americana que esteve presente em grande número nos cinco dias de competição em Irvine.

- Yolane Kukla, de apenas 15 anos, conquistou duas medalhas de prata com o revezamento australiano e ficou com a quarta posição nos 100 metros livre, com o tempo de 54s17. Incrível para uma atleta desta idade. A campeã nos 100 metros livre feminino em Cingapura, a chinesa Tang Yi, de 17 anos, fez o tempo de 54s46.

- Quadro de medalhas:
Ranking PAÍS OURO PRATA BRONZE TOTAL
1 EUA 26 17 10 53
2 AUSTRÁLIA 6 15 10 31
3 JAPÃO 3 5 5 13
4 CANADÁ 2 2 6 10
5 BRASIL 2 2 4 8
6 COREIA DO SUL 1 1 0 2
7CHINA 0 0 2 2
7 ÁFRICA DO SUL 0 0 2 2

A equipe brasileira que disputou o Pan-Pacífico 2010:
André Schultz;Bruno Fratus;Cesar Cielo Filho;Eduardo Fischer;Fabíola Molina;Felipe França Silva;Fernando Silva;Gabriel Mangabeira;Gabriella Silva;;Glauber Silva;Guilherme Guido;Henrique Barbosa;Henrique Rodrigues;Joanna Maranhão;João Gomes Júnior;Kaio Márcio Almeida;Leonardo de Deus;Lucas Salatta;Luis Arapiraca;Nicholas Santos;Nicolas Oliveira;Tales Cedeira;Thiago Pereira;Ana Carvalho;Carolina Mussi;Diogo Yabe;Felipe Lima;Fernanda Alvarenga;Flávia Delaroli-Cazziolato;Frederico Castro;Juliana Kury;Juliana Marin;Larissa CieslakLeonardo Fim;Lucas Kaniesky;Manuella Lyrio;Natália Favoreto;Poliana Okimoto;Rodrigo Castro;Sarah Correa;Tatiana Lemos Barbosa;Tatiane Sakemi

Murilo Borges é estudante da PUC Jornalismo e trabalha da TV Record, no setor de esporte.

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