A natação vive uma nova era. Ano passado foram mais de 100 recordes mundiais, uma olimpíada que teve quebrado 30 dos 32 recordes olímpicos, e uma atenção da mídia que jamais teve, aliado também ao fato de Miachael Phelps ter se tornado o maior medalhista de ouro de todos os tempos. Tudo o que quem está ligado a natação queria. Um espaço que nunca teve na mídia.
Entretanto, uma boa parte deste sucesso está ligado a tecnologia dos novos maiôs, que teve seu boom no ano passado, no início do ano, quando começaram a ser comerciados mais fortemente as peças. A Fina aceitou toda essa novidade das novas marcas, esperando que fosse incrementar algo na natação mundial. Entretanto, mais de um ano depois, fica claro que a Federação Internacional de Natação fez errado.
Atualmente, a natação está parecendo a fórmula 1. Nada contra o esporte de Senna, Piquet e Fitipaudi, a qual eu sou muito fã e assisto quinzenalmente as corridas sem perder nem os treinos livres de sexta-feira. Mas no esporte automobilístico, já é tradição que apenas seis, no máximo oito carros, tem chances reais de vitória, e as equipes trabalham duro para superar umas as outras. Agora, a natação começar a ir aos moldes da fórmula 1 é totalmente inaceitável. Atualmente, quem tem o melhor traje é o favorito para a prova, e não quem treinou mais ou quem realmente é melhor.
Atualmente, assim que é batido um recorde mundial a primeira questão que vem a cabeça não é mais como foi sua técnica, senadou bem na primeira ou na segunda metade, ou algo do gênero. O que vem a cabeça de todos é qual é o traje que o atleta usou. Na fórmula 1, dizemos “Rubens Barrichello, da equipe Brawn”. Atualmente, na natação já não falamos mais “ César Cielo do Brasil” e sim “ César Cielo, da Arena”. Uma pena a situação que estamos chegando.
Já vi gente dizer na TV que o maiô não bate recorde sozinho, então é a favor dos trajes. Já vi gente falandotambém que tão desigual quanto os maiôs são os treinamentos específicos de altitude, que também só são feitas pelas nações com mais dinheiro. Porém, esse treinamento em altitude é uma forma de incrementar o treinamento do atleta, e não uma forma “extra” de melhorar o desempenho.
Vou reproduzir alguns trechos da opinião de Alexandre Pussieldi, um dos maiores especialistas do esporte no Brasil:
As empresas estão faturando, mas não estão contribuindo nada com a natação. Nada mesmo. Não ficará nada. Quem é técnico de natação sabe muito bem do que estou falando. Os jovens nadadores já estão atrás das “soluções fáceis” dos trajes maravilhosos mas ninguém atrás do trabalho duro e uma maior dedicação para melhores resultados. “
Os dólares que Speedo, Arena e Bluseventy deixam na FINA não se comparam com os centenas de milhares de dólares que estão indo para o caixa das fábricas. E ainda tem um prejuízo técnico que não se compensa, pois a natação só vai se dar conta quando toda esta novela acabar.
Se alguém acha que estou exagerando é porque não tem noção da bagunça que virou tudo isso. Nadadores que nunca foram nada no ranking hoje estão entre os 10 melhores do mundo! Recordes já se contam em dezenas, em qualquer competição. Achar que a tecnologia do LZR, a flutuabilidade do Blueseventy, a magia do Jaked não tem nada a ver com isso, é um principio de loucura.
Os nadadores estão nadando em tempos abaixo dos seus melhores apenas por estarem utilizando trajes que realmente fazem a diferença. E você achando que tudo isso é a dedicação aos treinos, o perfeito planejamento e a nova fase da natação? Ledo engano, e triste por sinal. Nosso esporte está em crise.
Para mim, melhor ainda foram as declarações de Guilherme Freitas, para mim o melhor repórter de natação do Brasil.
nova geração dos trajes é uma violenta aberração contra essa igualdade. Trajes que fazem a diferença na performance afetam diretamente o nosso esporte.
Não há como comparar os trajes com a barra de fibra de carbono do salto com vara. Esta é para todos, onde qualquer um pode acessar. Os trajes são limitados, escondidos até as vésperas dos eventos, disponíveis sempre para os atletas patrocinados, e de difícil acesso a população.
Qualquer um que esteja lendo este artigo agora. Tente comprar um X-Glide da Arena. Tente comprar um Blueseventy, um LZR, um Jaked. Qualquer um, e confirme de que tais produtos não estão disponíveis no mercado. Veja o quanto é difícil ter acesso e, principalmente, o quanto é caro poder ter um traje destes. O tal super traje de Ian Thorpe nunca foi colocado a venda. Era uma exclusividade dele. E isso não é justo.
O esporte evolui, claro que evolui. Para isso nós temos a piscina com raias anti-marolas controlando os efeitos de turbulência que afetam a todos na piscina. Os blocos de partida também evoluíram, e a FINA foi consciente suficiente para não colocar em disputa já que nem todo mundo teve acesso aos novos modelos da Omega.
Consciência esta que faltou na análise dos trajes. Todos agora estão desesperados. A FINA que sabe e reconhece que o esporte está afetado. As empresas que fizeram o investimento e estão preocupadíssimas com qualquer proibição a um de seus produtos. Os técnicos e atletas, estes sim os maiores prejudicados, estão a mercê desta briga de mercado que não coloca os melhores atletas no pódium, e sim aqueles que possuem o melhor traje.
Neste artigo darei três exemplos da banalização da natação. O primeiro foi o nadador holandês Lennart Stekelnburg, que nadou a final dos 100m peito no campeonato nacional para 1min01s90 com um maiô LZR. Depois o próprio Stekelnburg pediu uma tomada de tempo e de Jaked, mandou 59s50, o quinto melhor tempo da história da prova. O segundo exemplo é da holandesa Marleen Veldhuis. No mesmo campeonato holandês ela nadou os 50m livre nadou com o LZR e os 50m borboleta com um Jaked. Fez 23s96 e 25s33 respectivamente, novas marcas mundiais em ambas as provas. Disse depois que utilizaria o maiô ideal para cada prova. Seu técnico Jacco Verhaeren já disse que é a favor do banimento total dos trajes. O terceiro caso é do espanhol Rafael Munhoz, que de mero desconhecido e nem semifinalista em Beijing, passou a ser o recordista mundial nos 50m borboleta com impressionantes 22s43. Isso sem falar nos 46s94 de Alain Bernard, utilizando a nova peça da Arena, o X-Glide.Para se pensar...
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