quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Entrevista com Sebastian Pereira- Ex- Judoca
Sebástian Pereira é uma das figuras mais importantes da história do judô brasileiro. Já foi medalhista pan-americano, mundial, venceu mundiais de categorias, ficou em quinto lugar na olimpíada de Atlanta e atualmente trabalha no Comitê Olímpico Brasileiro.
Segue abaixo a entrevista que ele gentilmente me concedeu por e-mail semana passada
Guilherme Costa Tínhamos três campeões mundiais na equipe olímpica e, por isso, grande parte da imprensa criticou ""'apenas"" três bronzes brasileiros, fechando os olhos para as 27 vitórias que o país teve ao todo, as quintas e sétimas posições que não podem ser esquecidas. O que você achou da participação brasileira e em Pequim?
Sebástian Pereira Acredito que a participação brasileira tenha sido muito boa. Sabemos do nivelamento de países no mundo do judô. O importante foi termos alcançado uma maior homogeneidade de resultados, principalmente com a evolução da classe feminina, onde tivemos uma atuação muito boa e conseguindo a primeira medalha feminina para esportes individuais do Brasil. Para ilustrar, tivemos somente uma categoria entre o masculino e feminino, onde o Campeão Mundial de 2007 foi Campeão Olímpico em 2008. Foi a categoria médio masculino. O Brasil pelos resultados recentes chegou para ficar na elite do Judô mundial.
GC: O que achou das novas regras do judô para o novo ciclo olímpico, tanto dentro dos tatames(4 minutos de luta, extinção do Koka, repescagem somente com quatro atletas) e na classificação olímpica ( ranking individual, pontuação contando desde o ano pós olímpico etc).
SP: As novas regras foram importantes para dar mais dinamicidade para as lutas e resgatar o judô tradicional. O tempo continua de 5 minutos e temos outras regras novas permitindo o judô mais tradicional voltar a ser praticado, com menos técnicas de sambo, por exemplo. Quanto a classificação olímpica, acredito que tenha sido muito ruim, para os países, principalmente, do Continente Americano. O maior beneficiado foi a Europa, pela quantidade de competições realizadas no continente e pela quantidade de atletas em disputa. Como nosso continente, é carente de recursos, ficou muito mais difícil viajar e ter que participar de um grande número de campeonatos. Outra grande diferença, é com relação a conquista da vaga pelo atleta e não mais pelo país, o que justifica um risco enorme para o país, pois se alguém se machucar as vésperas da olimpíada, a vaga é passada para outro da fila, da mesma forma acontece no tênis. O processo ficou muito mais desgastante, pois serão 4 anos e não mais 2 anos. Enfim, será um ciclo de grande adaptação para todos, sem exceção, inclusive para a Europa. Vamos torcer para o Brasil.
GC: Na olimpíada de Atlanta, você foi a às sem finais e acabou perdendo duas lutas seguidas, ficando sem medalha. Ainda ficam essas derrotas na sua cabeça ou depois de 12 anos são águas passadas?
SP: Como você falou, são águas passadas, mas realmente chegar tão perto de uma medalha e não conseguir foi muito frustrante. No momento, fiquei ao mesmo tempo, chateado e também, feliz pelo desempenho, pois tinha apenas 20 anos. Era o caçula e tinha muitas conquistas pela frente. Aconteceram muitas, mas também, muitas contusões o que acabou encurtando minha carreira.
GC: Qual a diferença que você vê na estrutura do judô no tempo em que você era da seleção olímpica para hoje? Comente, se possível, um pouco da era Mamede que você viveu, quanto a viagens, seletivas para mundial etc...
SP: As mudanças são gritantes, principalmente pelo diálogo existente entre a CBJ e os atletas, o que não existia em minha época. E temos uma nova perspectiva do esporte, feito de uma forma muito mais profissional.
GC: Você é um dos grandes nomes da história do judô brasileiro, medalhista pan-americano, mundial, quinto colocado em Atlanta 96, campeão em todas as categorias menores. Depois que abandonou os tatames, seguiu dentro do esporte e ainda e foi para Departamento Técnico do Comitê Olímpico Brasileiro. Ainda está trabalhando lá? Qual é sua função?
SP: O esporte é minha vida, então natural continuar depois de parar a carreira de atleta. Após terminar a carreira de atleta, iniciei a minha carreira de gestor esportivo, no Comitê Organizador dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 e depois fui absorvido pelo COB, dentro do Dep. Técnico, onde sou Gerente e atendo os esportes Judô, Lutas Associadas e Boxe. A idéia é fazer melhor na carreira de Gestor Esportivo do que fiz na carreira de atleta.
GC: Como você vê o atual momento do judô brasileiro quanto a divulgação na mídia que está tendo, com transmissões de mundiais, copas do mundo e gran prix? O judô poderia/deveria ter mais espaço nos veículos de comunicação?
SP Acredito que o espaço criado pelo judô é conseqüência dos resultados e pelo profissionalismo de hoje. Com mais trabalho, conseguiremos mostrar ainda mais todo o potencial do Judô.
GC: O judô feminino conquistou sua primeira medalha olímpica, foi muito bem no mundial junior em 2008 enquanto o masculino não ganhou ouro """sequer"" em etapas da Copa do Mundo. Está vindo uma reviravolta e as mulheres vão passar a ter melhores resultados ou a competitividade das lutas masculinas ainda é muito maior?
SP: Eu fico muito feliz com o grande avanço do judô feminino, onde a CBJ teve um papel fundamental na preparação desta atletas e das equipes de base, também. Acredito que teremos uma equipe nacional masculino e feminina com grande resultados e que trarão grande alegrias para o País. A homogeneidade entre as duas classes foi um importante avanço.
GC: Fugindo um pouco do judô e falando do esporte brasileiro em geral. O que achou de uma participação com três ouros( 23º no geral) e um total de 15 medalhas (19º o geral) do Brasil em Pequim?
SP: A campanha da Delegação Brasileira em Pequim foi muito boa, contabilizando todos os avanços que tivemos, pois tivemos crescimento em quase todos os esportes, com grande resultados. Esportes que não figuravam com resultados chegaram próximos de medalhas ou com medalhas, como por exemplo, o Taekwondo. É claro, que para a Sociedade Brasileira o que importa é medalha de Ouro, mas detalhes significam ou a perda ou ganho de medalhas, em geral. Com certeza estaremos mais fortes em Londres, com possibilidade de ganho e muitas modalidades. A Evolução é gradual e lenta, mas estamos trabalhando para tentar conseguir mais medalhas e tentar diminuir a grande diferença existente em algumas modalidades. Esporte é isso.
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