quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Saga do volei feminino nos Jogos Olímpicos


O volei feminino viveu muitos, mas muitos dramas em Jogos Olímpicos até chegar a medalha de ouro na última edição, em Pequim. Foram quatro gerações que disputaram as olimpíadas, lutaram muito, sofreram derrotas doloridas, venceram partidas memoráveis até que PaulaPequeno, Sheila, Mari, Fofão e Cia subissem ao lugar mais alto do pódio e ouvissem o hino nacional no ginásio olímpico.

A derrota que não sai da cabeça de ninguém é a das semi finais dos Jogos de Atenas, diante da equipe russa, quando o jogo estava 24x19 para nossa seleção e sofremos a virada. Porém, três eliminações, também nas semi finais, nos Jogos de 2000 e 1996, diante das eternas rivais cubanas e diante da equipe Unificada em 1992 também doeram. Teve também a derrota para os EUA nos Jogos de 1988, de virada e de maneira dramática, assim como havia acontecido quatro anos antes. Em 1980, também perdemos um jogo que estava ganho e levamos a virada.

Esse histórico, muito vitorioso, claro, mas com derrotas amargas e inacreditáveis, levavam a crer que em 2008 não seria diferente, mesmo com o time terminando a primeira fase com cinco vitórias em cinco jogos sem perder um único set. A primeira geração, de Isabel e Jacqueline, não chegou até as semi finais mas conseguiu fazer jogos inesquecíveis. A segunda geração, dos Jogos de 1988, tinha a presença de

Em 1980, o Brasil ainda penava diante das peruanas nas competições sul-americanas, o que fazia com que não conquistasse vaga olímpica, na época com apenas oito participantes. O boicote liderado pelos EUA "deu" uma vaga para nossa seleção, na época composta por jogadoras como Jaqueline, Isabel e Vera Mossa, comandadas por Ênio Figueiredo. Era o início de uma geração, e o time perdeu dois de seus jogos na primeira fase poe 3x2. Na estréia, diante das húngaras, conseguimos empatar duas vezes a partida, mas saímos com a derrota. Nossas adversárias tinham sido 13ª no mundial de 78, competição que as brasileiras ficaram em sétimo. Depois de perdermos para a Bulgária, futura medalhista de bronze, enfrentamos a Romênia e, depois de dois sets ganhos, levamos mais uma virada para 3x2. No fim, vencemos a Romênia na luta pelo sétimo lugar e fechamos nesta posição a primeira participação; ....

Quatro anos mais tarde, quando o volei masculino já tinha ganho mais visibilidade, com mundialitos disputados no Brasil, medalhas de nossa seleção em competições importantes, as meninas ainda davam os primeiros passos. Mais uma vez ajudadas pelo boicote, desde vez soviético, a seleção viajou para Los Angeles sem grandes pretenções. Comandadas novamente por Ênio Figueiredo e com um time muito parecido com o de 1984, as meninas perderam o primeiro jogo para a China, que posteriormente ficaria com o ouro, em três sets e foram para a partida contra os EUA, terceira colocada no mundial de dois anos antes, para o tudo ou nada. E quase ficou com tudo. Nos dois primeiros sets, para surpresa geral, as meninas fizeram 15-12 e 15-10, mas depois deixaram com que as donas da casa virassem para 15-5, 15-5 e inacreditáveis 15-12 no tie breake. No início do terceiro set, já havia americana com lágrimas nos olhos chorando a derrota. Mas o Brasil não resistiu e, mesmo com 12x8 no tie breake, saiu derrotado.Na terceira rodada, já desacreditadas, caíram diante das alemãs orientais, pior time do grupo, em três sets.
No livro "Vôlei no Brasil- Uma história de grandes manchetes" de Oscar Valporto, ele conta como foi a reação das meninas brasileiras
" Isabel chorava e soluçava após a derrota para os EUA. As câmeras de Tv seguiam o rosto de traços finos de Vera Mossa, esperando as lágrimas descerem dos olhos marejados(...) Aquela olimpíada marcava o fim de uma geração de musas, responsável pela popularização das equipes femininas no Brasil.
Já no livro "Atleta, substantivo feminino", do mesmo Oscar Valporto, Jacqueline conta que faltou atitude, concentração e compromisso com a vitória.

Nos jogos de Seul, em 1988, a primeira classificação sem a necessidade de boicotes, caímos no grupo da morte, com EUA, China e Peru, e perdemos os três jogos. O time, já comandado por Jorge de Barros ainda tinha jogadoras da velha geração, mas já trazia no time Ana Mozer e Fernanda Venturini. O time estreou com derrota diante das peruanas, que tinham praticamente a hegemonia do continente na época. Depois, uma derrota em cinco sets diante das americanas tirou nossas possibilidades de clasificação e o time acabou perdendo também o terceiro jogo, para a China, em quatro sets.

Os Jogos de Barcelona marcaram a reviravolta brasileira. Já com Ana Paula, Hilma, Leila, Fofão e Ana Flavia no time, a equipe contou com as veteranas Ana Margarida, Ana Lúcia e Maria Regina além das que eram novatas em 1988 e já brilharam em Barcelona, Ana Mozer e Fernanda Venturini.
Porém, a tão sonhada medalha não veio. Na primeira fase, o time derrotou a Holanda, perdeu para Cuba e chegou até nas quartas de finais com a vitória sobre a China por 3x2. Depois, passou pelo Japão e chegou na primeira das cinco semi finais consecutivas que chegaria. E a primeira das quatro que perderia.

Mesmo com o oitavo lugar na Copa do Mundo de 1991, o time chegou o expectativas de medalhas para os Jogos Olímpicos de Barcelona. Alguns, como Silvio Lancelotti em seu livro "Olimpíadas 100 anos" dizem que faltou as meninas acreditarem mais em seu potencial e faltou liderança natural, e não excesso de agressividade do técnico Wadson de Oliveira. O Brasil perdeu o terceiro e o quarto sets por 15-5, mostrando falta de maturidade e de decisão.
Depois de um ciclo olímpico em que o time foi vice campeão, no mundial disputado em São Paulo em 1994, o time chegou muito bem para os jogos de Atlanta. Ana Flavia, Ana Paula, Ana Mozer, Fernanda Venturini, Hilma e Marcia Fu era um time que estava na boca de qualquer um dos milhões de brasileiros que torciam pela primeira medalha das mulheres na história olímpica.

O time fez uma primeira fase impecável, vencendo seus cinco jogos, inclusive as peruanas, para quem o time vinha de derrotas em sul-americanos, e as cubanas, que havia derrotado as brasileiras na final do mundial. Nas quartas de finais, passeio sobre a Coréia do Sul. As semi finais estavam ali,diante de Cuba.

O Brasil levou o primeiro set mas as cubanas empataram. No terceiro set, vitória brasileira e, no quarto, mais uma vez falha no momento decisivo. Depois de abrir quatro pontos, o time deixou Cuba virar, viu o time caribenho empatar e entrar embalada no tie breake, quando venceram por 15x12. Na comemoração, as cubanas provocaram as brasileiras, o clime esquentou, e a confusão que todos conhecem foi formada. Teve dedo na cara, mão no rosto, cusparadas e muito mais.
No dia seguinte, o time mostrou que, desta vez, tinha técnico. Bernardinho mandou todo mundo treinar forte no dia seguinte e esquecer o que foi passado naquela fatídica semi final. Na disputa pelo bronze, dois dias depois da semi final, o time alterou péssimos e bons momentos, mas venceu a Rússia no quinto set por 15x13e pode sair de Atlanta com um honradíssimo bronze. Um prêmio para a geração que deixava as quadras e que ""ensinou"" as futuras líderes da equipe, Virna, Leila e Fofão, tão importantes para o bronze que viria em 2000.

Os Jogos de 2000 tiveram um enredo parecido com Atlanta. Com uma equipe renovada, apenas as três atletas citadas acima estavam em 1996, o time teve um início brilhante e terminou a primeira fase com cinco vitórias em cinco jogos e apenas um set perdido, retrospecto que continuou excelente depois das quartas de finais, em que o time não tomou conhecimento da Alemanha.

Nas semi finais, lá estavam as cubanas de novo. No mundial de 1998, o time perdeu para elas nas semi finais. Na Copa do mundo de 1999, nova derrota. A única vitória importante do Brasil tinha sido no Pan de Winnipeg. 2000 seria a redenção? Ainda não, ainda não. As cubanas, comandadas por Regla Torres, Regla Bel, Izquierdo e Mireya Ruiz, tentavam o tri campeonato olímpico. As cubanas venceram as brasileiras por 3 sets a 2, com parciais de 27-29, 25-19, 21-25, 25-19 e 15-9.
A principal arma cubana no jogo de hoje foi o bloqueio. Com Regla Torres _segunda melhor jogadora em aproveitamento neste fundamento_ em grande noite, Cuba conseguiu parar a maior parte dos ataques do Brasil.Variando as jogadas de meio, com Fernandez, e pelas pontas, com Regla Bell e Ruiz, as cubanas venceram o segundo, quarto e último sets com relativa facilidade.

No dia seguinte, o time soube se recuparar da derrota e venceu as americanas sem grandes dificuldades para ficar com o segundo bronze consecutivo.

Atenas 2004. Depois de um ciclo olímpico tumultuado, com mudança de técnico, boicote das atletas, um quarto lugar no pan-americano e um sétimo no mundial, o time chegou aos Jogos Olímpicos credenciado a mais um pódio depois de uma prata na Copa do Mundo do ano anterior e o título do Gran Prix.
Pela terceira vez consecutiva, nossas meninas terminaram a primeira fase invictas, vencendo todas suas cinco partidas. O time mesclava a experiência de Virna, Fofão e Fernanda Venturini e a juventude de Mari, melhor jogadora do gran prix daquele ano e Sassá, além de Walewska, Érika e Elisângela, veteranas de campeonatos importantes. Nas quartas de finais, uma complicada vitória diante das americanas e a quarta semi final seguida. Fofão e Fernanda Venturini estavam nas quatro, Virna estava em sua terceira. Desta vez ia...Ia.
O desfecho da partida todos sabem de cor. Quarto set, vantagem de 2x1 para as brasileiras e 24x19. Eram cinco match points. E todos sabem o desfecho. No tie breake, o time ainda esboçou uma reação, chegou a estar vencendo por 13x10 mas...Fomos derrotados.
" Quando eu pensei que ia dar, não deu" Disse Virna após a partida. As meninas foram taxadas nos últimos 12 anos de não acreditarem e si mesmas para passar à final. Desta vez elas acreditavam e não deu.
A medalha de bronze não deu graça. O time se mostrava muito abatido e desanimado e saiu derrotado por Cuba pela terceira olimpíada seguida. 3x1.

Pequim 2008. Era a hora da virada? O Brasil passou um ciclo olímpico inteiro entre as melhores do mundo mas falhou em momentos decisivos na final do mundial, quando desperdiçou 13x10 no tie breake na final diante da Rússia, e no Pan-americano do Rio, quando desperdiçou inúmeros match points diante de Cuba num Maracanazinho lotado. Era a hora de virada.
O Brasil venceu pela quarta olimpíada seguida todos seus jogos na primeira fase. Bateu, inclusive, as russas, num sonoro 3x0. Alias, foram cinco vitórias por 3x0, mesmo placar das quartas de finais diante do Japão.

A semi final foi diante da China, dona da casa. Imagino o que passava na cabeça de Fofão, única a ter passado pelas quatro semi finais anteriores. Era a hora das meninas.
Cada ponto feito diante das donas da casa um alivio. Os brasileiros nunca pensaram tanto na frase " Não comemore antes que dá azar". O primeiro set foi complicado, a vitória veio por 27x25. O segundo set foi mais fácil e o terceiro então, nem se fale. O Brasil chegava a final olímpica pela primeira vez ,e sem perder nenhum set.

A final foi diante das americanas. As cubanas, algozes por tantas e tantas vezes, pararam nas semi finais. As russas, caíram nas quartas diante das donas da casa.

Um primeiro set perfeito do Brasil, 25x14. Um segundo estranho. Derrota por 25x18 e o medo pairou pelo Brasil. Com certeza, na cabeça de cada um dos brasileiros que acordaram na manhã do dia 23 de agosto para ver a partida, passou a imagem de uma possível derrota. De que o time iria vacilar novamente.

Veio o terceiro set. O Brasil abriu 6x3 e não perdeu mais o controle do set. 25x13. O quarto set foi o mais equilibrado de todos. Os times ficaram se alternando na liderança do placar, brigando muito por cada ponto até 0 21x20 para o Brasil. Neste momento, os EUA tentaram o ataque e as brasileiras salvaram uma bola impossível, que deram de graça as americanas que mandaram para fora. Para mim, aquele foi o ponto do ouro.

O ouro de José Roberto Guimarães. O ouro de Sheila, Paula Pequeno, Fofão, Mari. O ouro de Jaqueline, Fabi, Fabiana, Thaissa, Sassa, Walewska, Walewskinha, Carol Albuquerque. Mas também o ouro de Isabel, Vera Mossa e Jaqueline. O ouro de Ana Mozer, Hilda, Márcia Fu, Ana Paula, Ana Flavia. Ouro de Leila, Virna, Bernardinho. Ouro de todas que fizeram esta história sofrida, mas muito, muito gloriosa do Brasil em Jogos Olímpicos.

Um comentário:

  1. Como podemos ver a história do vôlei feminino é repleta de muita dor, lágrimas e de grandes alegrias.

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