domingo, 2 de novembro de 2008

Por que o judô não decepcionou em Pequim!

O judô é um dos esportes mais vitoriosos do Brasil e na olimpíada o resultado, três medalhas de bronze, ficou abaixo do conquistado no último mundial, quando foram três ouros e um bronze, mas acima dos dois bronzes de Atenas e Atlanta e com mais medalhas que em Sydney, Barcelona e Seul.

A Mídia caiu em cima do resultado do judô, o que causou revolta em Leandro Guilheiro, medalhista de bronze pela segunda vez consecutiva e que conversou comigo por telefone : "É gente que gosta de tirar medalha do peito do atleta. Acompanham quatro anos o futebol e na hora de uma olimpíada ou Pan-americano querem falar de coisas que não sabem". O atleta, porém, lembrou de membros da mídia que sempre acompanham o esporte " O Sportv, com comentaristas ex-atletas, e alguns veículos impressos estão de parabéns".

O mundial do ano passado, disputado no Brasil, teve medalha de ouro para Luciano Correa, João Derly e Thiago Camilo, além do bronze de João Gabriel. Isso fez com que as expectativas fossem as melhores possíveis, mas a própria Confederação Brasileira de Judô sabia da dificuldade
"Nosso objetivo é ganhar três medalhas, uma delas de ouro e outra delas com o feminino" Declarou o presidente da entidade antes dos Jogos.

Do objetivo inicial, duas metas foram cumpridas, ficando somente sem a conquista da medalha e ouro, que ficou bem próxima com Leandro Guilheiro, que perdeu sua luta nas quartas de finais para um judoca sul-coreano, campeão mundial, e que ficou com a prata em Pequim.
Dos 14 campeões mundiais de 2007, apenas dois repetiram o lugar mais alto do pódio em Pequim, o que mostra o equilíbrio que vive o judô atual.

A única vez em que o Brasil havia conquistado três medalhas olímpicas, havia sido em Los Angeles, 1984, quando a principal força do mundo, a União Soviética, boicotou o evento. Claro que isso não tira os méritos de nossos medalhistas na ocasião, mas hoje em dia a União Soviética se desmontou em 14 países, a maioria deles potencias da modalidade, como Geórgia, Uzbequistão, Rússia...
Ou seja, antes os brasileiros tinham apenas um adversário soviético na chave, e agora são, na teoria, 14. E mesmo assim o Brasil conseguiu repetir as medalhas de 1984,com um total de três.

Outro fato unânime antes das olimpíadas era que todos os atletas brasileiros, um total de 13, chegaram aos Jogos Olímpicos com chances reais de medalhas. Um prova disso é que o país ganhou um total de 26 lutas, recorde histórico para nosso país, e entre os sete melhores do mundo nesse quesito.

A mídia, empolgada com os resultados do último mundial, publicou que éramos favoritos em diversas categorias, quando a própria CBJ tentava diminuir o fogo, principalmente depois dos resultados não tão satisfatórios nas etapas da Copa do Mundo, em que apenas Mayra Aguiar levou ouro. “O equilíbrio no judô é muito grande e temos que olhar para todos os lados. Em cada categoria, diria que há oito, dez atletas com reais chances de subir ao pódio nos Jogos Olímpicos de Pequim”, avalia o coordenador técnico internacional da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson em abril passado. “Para se ter uma idéia, da Copa Jigoro Kano, em dezembro, para cá, levando em conta as sete Copas do Mundo realizadas, não tivemos campeões repetidos em 99% das vezes. Muitas vezes, nem os pódios se repetiram”, completou.

Outro fato que complicou bastante as chances de medalhas dos brasileiros foram as chaves, sempre complicadas, o que gerou até uma polêmica pois os judocas chineses sempre se encontravam com adversários mais fracos até as quartas de finais, enquanto os favoritos iam se "matando". Um grande exemplo disso se deu na categoria até 100kg, em que Luciano Correa, campeão mundial, enfrentou na primeira rodada o holandês Henk Grol, campeão europeu e que vinha de doius ouros em Copas do Mundo. O vencedor desta luta, no caso o holandês, enfrentou o vencedor do confronto entre Ariel Zeevi, de Israel bronze em Atenas e na Super Copa de Paris, e o francês Frederic Demontfaucon, grande atleta de uma das potenciais do esporte. Sem contar que outros grandes nomes estavam do mesmo lado da chave, mas para simplificar apenas um dos quatro dos principais favoritos, seguiu até as quartas de finais.
Provavelmente não foi isso que tirou a medalha de Luciano Correa, que na repescagem ainda venceu Ariel Zeevi mas posteriormente voltou a lutar mal e ficou fora do pódio. Porém, deve ter influenciado.

O mais estranho é que os dois brasileiros que pegaram chaves menos complicadas em Pequim foram exatamente os que não medalharam no último mundial. Eduardo Santos, na categoria até 90kg, e Leandro Guilheiro, até 73kg, não enfrentaram os principais candidatos ao título até as quartas de finais, enquanto o Luciano Correa, João Gabriel e Thiago Camilo pegaram grandes adversários nas primeiras rodadas.

A mídia, ao criticar a participação brasileira no judô, esqueceu da grande campanha que as meninas fizeram, conquistando a primeira medalha, ficando em quinto com a Edinanci, além de azar nas chaves com Mayra e Sarah. Por último, vale lembrar que Erika Miranda, quinta colocada no mundial passado, não disputou por conta de uma lesão.

Há alguns anos, as brasileiras sequer conseguiam vitórias em campeonatos mundiais, eventos que reunem mais atletas e portanto com mais lutas ""fáceis"". Hoje em dia, as brasileiras ganham diversas lutas até mesmo em olimpíadas e, quando não vencem, conseguem lutar de igual para igual, como foi o caso de Danielli Yuri na categoria até 63kg, quandoenfrentou uma das favoritas e conseguiu aplicar até mesmo um Wa-zaari.

Portanto, a mídia que cobre quatro anos de futebol e resolve dar atenção para outros esportes na hora da olimpíada criticou a atuação do judô em Pequim. Quem acompanha, sabe o que acontece no dia-dia dos judocas, analisa os adversários, vê a evolução que tivemos em quatro anos, não achou a participação decepcionante. Claro, pelos resultados, poderíamos ter conquistado algo a mais, mas o judô é um esporte tão equilibrado que apenas dois campeões mundiais saíram com ouro de Pequim.

Um comentário:

  1. Infelizmente vivemos em um país dominados pelos fanáticos por futebol. É por isso que pouco vemos nas emissoras abertas trasmissões de outros esportes, e quando vemos é de uma maneira tão precária que dá raiva. Por isso temos comentários deprimentes como esses que avaliaram o judô brasileiro.

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