terça-feira, 25 de novembro de 2008

Esporte à esporte - Ciclismo Pista


O ciclismo pista é o primo pobre do esporte sob duas rodas no Brasil. Sem um campeonato nacional há dois anos, com pouquíssimos velódromos espalhados pelo Brasil e os consequentes resultados inexpressivos até mesmo em campeonatos sul-americanos, a modalidade tenta se reerguer depois de ficar de fora de uma olimpíada pela quarta vez consecutiva.

Na última semana, o campeonato brasileiro que iria ser disputado foi adiado pela Confederação Brasileira de ciclismo sem muita justificativa. "Resolvemos adiar porque os atletas estão competindo nos Jogos Abertos e porque tivemos poucas inscrições. Estamos mobilizando muito dinheiro, mas o interesse foi pequeno. A Confederação esperava cerca de 100 inscritos, mas até a data do cancelamento tinha menos de 20% de interessados com apenas 18 inscrições" declarou o Presidente da Confederação Brasileira de Ciclismo José Luiz Vasconcellos.

O assunto caiu na imprensa como o ciclismo pista não aparecia desde o fim dos Jogos Pan-americanos. Reportagens especiais na maioria dos jornais e grandes portais pipocaram e a modalidade voltou à mídia. Confira trechos da reportagem do site http://www.gazetaesportiva.net/

Os treinadores desmentem e afirmam que o Brasileiro em seguida aos Jogos Abertos seria até positivo, já que os atletas estariam em ritmo de competição. Além disso, acrescentam, a Confederação poderia simplesmente transferir o evento para o velódromo de Americana (a 40km de Piracicaba), ajudando até no corte de gastos das equipes, que poderiam aproveitar o mesmo alojamento.
“É difícil realizar um trabalho dentro das condições que nos oferecem”, acrescenta Fernando Monteiro Camargo Ortiz, técnico da Unimed-Taubaté/Nossa Caixa/Feijão Tarumã/Sedisa/Pedal Bike Shop. “É lamentável. A política em prol do ciclismo está muito equivocada. Nosso sistema esportivo está muito longe da realidade do mundo. Estive em Cuenca (Equador), em junho para o Pan-americano Júnior e comparando o Brasil com outros países nossa estrutura é muito arcaica”, critica.

Entrei em contato com o atleta Ricardo Alcici, um dos principais ciclistas de pista da atualidade e ele apontou uma solução plauzível para solucionar o problema da modalidade: " Pra mim a solução seria criar um setor de Pista dentro da CBC para cuidar da modalidade. Pois o que parece é que quando não tem atividade para ser feita em relação a estrada eles pensam na Pista! Por isso precisa de uma comissão especializada desde técnico para uma seleção, fiscais, organizadores da CBC apenas para PISTA, assim pode ser que melhore as coisas. Pois o Brasil tem tudo para ter provas periodicamente, tem atletas talentosos, e bons velódromos como o de Caieiras em SP, o de Curitiba e o belíssimo velódromo do Rio"

O Brasil já viveu dias melhores no ciclismo pista, com medalhas pan-americanas e participações em Jogos Olímpicos. Aliás, o Brasil medalhou nos Jogos Pan-americanos de 1995, em Mar Del Plata, na perseguição por equipes, na época em que ainda tinha uma certa tradição no ciclismo sul-americano, hoje dominado por Colômbia, Venezuela e Argentina.
Ricardo ainda alerta para o pouquíssimo número de provas disputado em pista no Brasil " Apesar de gostar muito da modalidade, ter equipamento de qualidade competi no Campeonato Paulista, onde obtive a 4ª colocação em 2 provas, e nos Jogos Regionais competindo pela equipe de Pindamonhangaba onde fui vice campeão na prova de velocidade por equipes e 6º na velocidade individual. Resumindo, fui a todas as provas de Pista durante o ano menos o Campeonato Carioca e Paranaense. Infelizmente o calendário atual se resume em 4 provas, Carioca, Paranaense, Paulista e Brasileiro" disse, o atleta que é 12º no ranking da CBC e que acha complicado disputar estaduais sem pertencer a equipes do local " Não estive em duas etapas porque é complicado treinar para os estaduais que tem importância apenas para as equipes do estado que promove a competição. E é inviável para as equipes e patrocinadores estar enviando os atletas para disputar provas sem cobertura de mídia e de certa forma sem importância" completa.

A competição deste ano, entretanto, acontecerá com certeza segundo o presidente, nos dias 16 à 19 de dezembro. “No ano passado, cancelamos porque estávamos negociando com uma empresa e no final não tínhamos recurso”, justifica Vasconcellos. Este ano, afirma, o dinheiro está garantido. Orçado em R$ 70 mil caso seja confirmado no Rio, o evento pode ter custo reduzido para R$ 40 ou R$ 50 mil se for transferido para um dos velódromos de São Paulo ou Curitiba (PR). “Quanto a isto não há problema nenhum”, assegura o dirigente, garantindo o Brasileiro mesmo se o pouco interesse persistir.

Os treinadores também demonstram insatisfação com o dirigente sobre o planejamento para os Jogos Olímpicos de 2012. Na opinião do mandatário da CBC, a modalidade não tem esperanças de um bom resultado em Londres. "Temos quatro modalidades olímpicas diferentes (pista, estrada, mountain bike e bici-cross) e o ideal seria ter R$ 2 milhões para cada uma (a modalidade inteira terá R$ 1,5 milhão do COB), mas isso é utopia. Por isso, vamos concentrar os investimentos no ciclismo de estrada e pensar em 2016. Quatro anos é tempo muito curto para preparar um atleta".

"Eu discordo da opinião do Vasconcellos. Se fosse feito um trabalho sério, com coerência, planejamento, poderíamos colher frutos já em Londres. Não digo uma medalha, mas uma final olímpica poderíamos conseguir já que material humano a gente tem", declarou o treinador da equipe Metodista/São Bernardo do Campo/Sundown/Nossa Caixa/Kuruma, Danilo Terra. "Temos um celeiro de atletas. Se o pessoal (CBC) levasse a sério, teríamos chances de obter bons resultados", disse Gava.
"Na pista é bem mais fácil o Brasil conquistar uma medalha em Olimpíada do que na Estrada já que são menos atletas competindo", afirmou Diegues. "Levei dois atletas para a Copa do Mundo e conseguimos chegar em duas finais das três provas que disputamos", disse ele referindo-se ao ciclistas Armando Camargo, o Piá, e Marcos Novello. Os dois chegaram à final da madison, enquanto Piá também foi finalista da scratch.
Como é consenso de todos, material humano nós temos, velódromos nós temos, até mesmo a verba está chegando com mais frequência. O que falta para o ciclismo pista voltar a deslanchar no Brasil é vontade dos dirigentes que comandam a modalidade de alavancar o esporte, que é tão bonito de ser ver e tão gostoso de se praticar. Vamos esperar para ver se teremos o brasileiro de ciclismo pista...

Nenhum comentário:

Postar um comentário