terça-feira, 18 de novembro de 2008

Esporte à Esporte- Atletismo Lançamentos e Arremessos


O atletismo brasileiro está vivendo dias melhores. Bons resultados nos saltos e nos revezamentos, nas provas combinadas estamos com atletas muito bons e na marcha temos conquistados belos resultados, assim como na maratona e até mesmo nas provas de fundo. Porém, os lançamentos e arremessos vivem um mau momento.

O Brasil nunca teve algum arremessador que pudesse lutar por medalha em mundiais ou olimpíadas e essa história ainda carente de ídolos repercute no presente e faz com que a segunda melhor equipe do Brasil, a Rede Brasil de Atletismo, de Bragança, abandonasse essas provas simplesmente por que " Não é prioridade".

Foi o que aconteceu no início do mês e que o técnico e atleta Luiz Fernando Silva, recordista brasileiro do lançamento de dardo, me contou ao telefone. Ele trabalhava na Rede Brasil de Atletismo, equipe que está crescendo cada vez mais no meio do esporte e está quase conseguindo igualar os resultados da multicampeã BM&F, e pretendia fazer um trabalho de quatro anos, tentando levar mais atletas brasileiros para as olimpíadas, já que em Pequim foram apenas dois, ambas mulheres.

"Achei que aqui iria ter um apoio, e de repente me mandaram embora. Coloquei oito atletas entre os cinco melhores do Brasil esse ano e acontece isso" disse Luiz Fernando, que é recordista brasileiro do dardo com 79m50 e ainda disputa a prova para ganhar pontos para seu time " Os caras disseram que o lançamento não é prioridade e por isso mandaram uma equipe inteira embora" Completou, referindo-se aos que mandam em seu ex-time. A Rede Brasil de atletismo foi contactada pelo blog via e-mail e não respondeu as perguntas.

O técnico da equipe rival da Rede Brasil, a BM&F, João Paulo acha que são três os motivos para que esse tipo de prova não tenha os resultados que outras pernas do atletismo atingem no Brasil " O número de praticamentes destas provas é menor com relação a outros segmentos do atletismo. Outro motivo é a dificuldade que se tem de treinar essas provas aqui, pois são raras as pistas que aceitam provas de martelo e peso que estragam muito o campo, geralmente usado para o futebol também. O terceiro motivo é a falta de implementos. Eu, graças a Deus, não tenho esse problema aqui no clube, mas muitos não tem acesso aos dardos importados que temos aqui.

E a dificuldades destas provas no Brasil foi mostrada na olimpíada. Na olimpíada, o Brasil classificou um total de 45 atletas no atletismo, entre os que conseguiram índices A e B. Apenas dois vieram dos lançamenos e arremessos, e ambas do sexo feminino. Alessandra Resende, no dardo, e Elisângela Adriano no disco não passaram da primeira rodada, com marcas inferiores das conquistadas durante o ano.
Elisângela é um marco nas provas de arremessos do Brasil. Disputou quatro edições dos Jogos Pan-americanos, com uma medalha de cada cor, todas no disco. Participou dos Jogos Olímpicos de 1996,2004 e 2008 e só não foi para Sydney 2000 pois esteve envolvida num caso de dopping.
Ela é a única dentro das Américas que conseguia fazer frente as cubanas, grandes campeãs mundiais e olímpicas que dominam o Pan há anos. Só para se ter uma idéia, no Pan do Rio as quatro provas de arremessos feminino tiveram dobradinha cubana.

Porém, o tempo de Elisângela pode estar chegando ao fim. Aos 36 anos, ela admite que os resultados estão cada vez mais difícies: " Antes, fazia 17m no peso com os pés nas costas, hoje é muito difícil chegar lá" Diz a brasileira que atualmente se dedica praticamente integralmente às provas de disco, em que tem o recorde sul-americano de 62m08 mas que não passou dos 60m em 2008. Queria estar entrando nos 30 agora, mas não estou. Hoje, é muito difícil competir bem” Completa.

E ela parece não ter uma substituta nas provas de disco e peso. Andréia Maria, que sempre foi vice campeã nos inúmeros títulos de Elisângela, está com 34 anos e não chega perto das marcas de Elisângela. No Troféu Brasil deste ano, enquanto nossa atleta olímpica ganhou o disco com a marca de 59m54, a vice campeã, Renata Figueiredo lançou 51m. No peso, a situação é ainda pior. Andréia Maria venceu com uma marca de 16m44, inexpressiva mundialmente, e a vice campeã, Anna Paula Pereira fez 14m94.

No masculino, o lançamento de peso vive uma situação parecida. Sem um atleta com resultados internacionais há anos(Edson Miguel foi 4º no Pan de 99), a prova não tem evoluido. No troféu Brasil deste ano, Ronald Julião venceu com 18m08 enquanto Gustavo Mendonça fez 17m15. Marcas distantes de recordes brasileiro e sul-americanos, na casa dos 18m72.
No disco, Ronald Julião vem conseguindo resultados melhores nestes últimos anos, venceu o Troféu Brasil esse ano com uma marca próxima aos 60m, o que quase o levou para Pequim. Mas, mais uma vez, os adversários ficaram bem abaixo, pouco acima dos 50m.

No dardo, a situação brasileira é um pouco melhor. Depois de Sueli Pereira dos Santos, que conseguiu boas marcas nos anos 1990, até pousou para a playboy e ficou perto de final em mundial, Alessandra Resende está lançando próximo do recorde de Sueli, que é de 61m98. Alessandra alcançou quase os 60m para se classificar para Pequim, mas naChina ficou um pouco aquém de suas possibilidades. Ainda no dardo, no mundial juvenil de julho, Jucilene Sales de Lima chegou na final e ficou entre as melhores do mundo, mesmo um pouco longe de sua melhor marca, que é na casa dos 54m. O problema é que Jucilene estava na equipe Rede Brasil e até a última informação sem local para treinar.

"O que falta é vontade dos chefes que tem o dinheiro investido no atletismo de colocar dinheiros nos lançamentos. Sempre foi assim. A finalista do dardo no mundial juvenil está sem clube, sem ter para onde ir no esporte" Diz Luiz Fernando Silva, referindo-se à sua pupila " Quando começa com trabalho sério, eles falam que não é prioridade. A gente não é tratado da mesma forma, ter um apoio melhor é o que precisamos" Completa.

Um caso mais absurdo ainda é o acontecido com Wagner, conhecido como Montanha, campeão e recordista brasileiro do Lançamento de martelo. O Pernambucano saiu de sua terra natal no início de 2008 para treinar em São Paulo pela equipe Rede Atletismo e agora não tem para onde ir no atletismo " Tô procurando outros clubes, não quero voltar, queria continuar com Pedrão(Seu técnico) . To abraçando qualquer time aqui em São Paulo" Diz o quase desperado Wagner " Se continuar sem clube nenhum eu vou ter que parar e voltar para Recife, e lá as equipes estão se acabando" Me conta o atleta por telefone.

E Wagner vinha crescendo bastante nos resultados. O índice olímpico, que era de 74m, ficou muito próximo e ele poderia ter levado pela primeira vez um atleta brasileiro nesta prova para a olimpíada. " Fiz 72m em treinamentos mas faltou mais treinos. Fiquei sem lançar três meses porque a pista do Ibirapuera e do Centro Olímpico não podia receber martelo pois o gramado estragaria" Diz o atleta que bateu o recorde brasileiro em 2006 com 69m73 e conseguiu vitórias em alguns meetings internacionais disputados no Brasil esse ano " Acho que consigo ir para o mundial do ano que vem" Completa.

Mas a prova do martelo, tradicionalmente fraca no Brasil, vem engatinhando apesar de tudo. As marcar mundiais estão um pouco estagnadas, como em quase todas as provas do atletismo, mas no Brasil o nível melhorou" Há alguns anos, uma marca de 60m ganhava o Troféu Brasil com sobras" Diz Montanha, referindo-se a Marcos Santos e Mario Luiz Lima, que ficaram com a prata e o bronze no brasileiro com lançamentos acima dos 60m. Ainda tem o australiano Mark Dickson, que disputa várias provas no Brasil e lançou 62m. E um incentivo a mais aos brasileiros.
No feminino, as marcas também melhoraram, mas ainda distantes do nível sul-americano e pan-americano. Josiane Soares venceu com 61m99 e chegou a lançar 63m64, muito perto de sua melhor marca obtida em 2006. O índice olímpico era de 66m.Katiuscia Maria Borges de Jesus é outra que vem conseguindo resultados melhores, chegando a lançar 64m58 em 2006. Neste ano, seu melhor foi de 60m43.

A situação destas provas no Brasil está bastante complicada pois além de um dos principais clubes ter fechado as portas, os equipamentos destroem o gramado nos treinamentos. E, no país do futebol, as principais pistas de atletismo são também campos de futebol.

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