quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Entrevista- Leandro Guilheiro e Denílson Lourenço

Há duas semanas, entrevistei o judoca participante das últimas duas olimpíadas Denílson Lourenço, que treina no clube Pinheiros. No mesmo dia, falei ao telefone com o medalhista olímpico Leandro Guilheiro. que não está treinando devido a uma contusão. As perguntas, inicialmente foram as mesmas, mas cada uma das conversas foi para um assunto específico, por isso a baixo terá a entrevista de Denílson e abaixo dela partes das conversas com Leandro.

Denílson Lourenço é um judoca muito simpático, apesar da timidez e de falar pouco. Respondeu a todas as perguntas com um sorriso no rosto e sempre bem humorado. Ele foi medalhista de bronze no Pan-americano de 1999, disputou os Jogos Olímpicos de 2000, quando foi eliminado na primeira rodada numa luta em que achou que tinha ganho, devido ao problema que tinha de visão, e não enxergou o placar. Com a visão operada, participou dos Jogos de Pequim e foi eliminado na segunda rodada.

Denílson disse que poderia ir ter ido mais longe na olimpíada: "Uma luta que eu tinha condições de lutar, mas ele acabou me enrolando e eu não consegui empatar a luta" disse, referindo-se a derrota na segunda luta para o tcheco tcheco Pavel Petrikov.

Disse também que as novas regras, testadas no mundial júnior deste ano, se entrarem em vigor podem atrapalhar os resultados dos brasileiros: " Os europeus, geralmente, tem menos técnica e tem muito mais preparo físico e cansam mais rápido, porque vêm com tudo na luta. Agora, diminuindo esse um minuto, complicou pois era próximo do quarto minuto de luta que eles, geralmente, começavam a cansar então não pode mais contar com esse fator"

O peso ligeiro também lembrou da época em que a Família Mamede mandava no judõ brasileiro:
" O clima era muito ruim, o pessoal da comissão técnica era muito isolado, eles só queriam colocar ordem e tinha que fazer o que mandava"
Abaixo, a entrevista na íntegra

Guilherme Costa: Há alguns anos, as seletivas brasileiras para a vaga na seleção eram disputadas "mano a mano" com os judocas da mesma categoria lutando entre si. Atualmente, a vaga é decidida pelos resultados em Copas do Mundo no exterior. Qual é sua preferência?
Denílson Lourenço: Mais justo para o atleta seria uma seletiva em confronto direto, mas o melhor para o Brasil é entre os resultados que acontecem lá fora pois é o que a seleção realmente quer né? Resultados lá fora. O objetivo não é saber quem é o melhor aqui no Brasil e sim que vai representar o Brasil lá fora.

GC: A mídia acabou criticando a participação brasileira no judô na olimpíada devido ao excelente mundial que o time fez. Mas não viu que foi número recorde de vitórias numa olimpíada, a evolução que o país teve.
DL: A gente já esperava uma cobrança pela campanha no mundial do ano passado. Tínhamos vários países fortes favoritos a várias medalhas e aí o resultado nem sempre acontece, isso é do judô, é do momento mesmo. A gente tinha condições de ir muito melhor, ganhar mais medalhas mas o judô é assim mesmo, é o momento.

GC: Você está na mesma categoria desde que iniciou no judô?
DL: Sempre no ligeiro, desde 1994. Sempre tive problema com peso, no mundial do ano passado acabei não disputando porque era reserva, o titular Alexandre Lee se machucou faltando uma semana e não pode ir e eu não estava no peso.

GC: Na olimpíada você acabou eliminado na segunda luta mas, pelo que eu vi, o resultado poderia ter sido outro...
DL: Era um adversário que eu já tinha lutado com ele e já tinha ganho dele mas seria uma luta difícil porque ele compete bastante ne Europa né? O Europeu luta muito entre eles, faz competições fortes nós vamos lá e disputamos apenas duas Copas do Mundo e eles fazem quase todos que podem. Uma luta que eu tinha condições de lutar, mas ele acabou me enrolando e eu não consegui empatar a luta. E na luta seguinte, ele acabou perdendo para o atleta do Uzbequistão com um Shidô no último segundo e eu fiquei de fora.

GC: Quando você perde, você fica ali torcendo para o cara que você perdeu ou você aguarda o resultado depois e tal?
DL: Ah, acaba assistindo a luta toda né? Quando tem televisão você vê, quando não tem você acaba indo para a arquibancada acompanhar porque querendo ou não você tem que torcer pois se ele perder você está fora da competição.

GC: E as novas regras testadas no mundial júnior, luta com quatro minutos, sem a pontuação do koka e a repescagem só para os eliminados nas quartas de finais, o que você achou?
DL: Acho que vai deixar o judô um pouco mais dinâmico né? Mas eu, particularmente, não gostei das inovações. Os europeus, geralmente, tem menos técnica e tem muito mais preparo físico e cansam mais rápido, porque vêm com tudo na luta. Agora, diminuindo esse um minuto, complicou pois era próximo do quarto minuto de luta que eles, geralmente, começavam a cansar então não pode mais contar com esse fator. Quanto ao Koka, acho que não vai fazer muita diferença pois vai tirar o Koka, a pontuação mínima vai ser o Yuko e eu só não sei o que vai acontecer com as quedar que seriam Koka na regra antiga.

GC: Você começou na seleção em 1994. O que mudou de um atleta brasileiro de 94 para o atleta brasileiro de hoje em dia?
DL: Antigamente era mais difícil porque não tinha muito incentivo e hoje em dia, ainda é difícil, mas o apoio, principalmente, financeiro é melhor. Mas, hoje quem mora no interior não tem grandes chances de treinar, tem que vir para o grande centro, ou capital ou litoral...Hoje em dia no interior o judô está pior do que era antes, porque as academias de lá estão com poucos atletas, acho que precisa fazer um trabalho no interior, agora vai abrir dois Centros de Excelencias, para ver se volta o judô do interior, se não ficaremos dependendo da capital.

GC: Você não foi para o Pan do ano passado. Você sente falta de não ter disputado essa competição?
DL: Ah, é uma competição que já passou. Na época foi ruim porque era uma competição importante e era no Brasil. A seletiva foi lá fora e eu acabei perdendo e como você me falou no começo, as vezes é injusto não ter um confronto, fica muito subjetivo.

GC: E quais são os planos para 2009?
DL: A gente tem que esperar, vai ter uma seletiva para ver quem será da equipe B para se juntar aos atletas que foram para olimpíada e irmos para Europa no inicio do ano para ver quem vai representar o Brasil. O mundial é a principal competição, tem algumas competições que eles querem colocar que a gente não sabe direito ainda.

GC: E a confederação Brasileira de Judô, te ajuda bastante?
DL: Hoje a gente não paga mais para viajar né? Na era Mamede, se o clube não tivesse dinheiro teria que tirar do bolso. Eu tenho ajuda do clube, a CBJ deu ajuda para os atletas que foram para olimpíada e ainda teve a Nossa Caixa Nosso Banco.

GC: Você conviveu quase 10 anos com a família Mamede, como que era?
DL: O clima era muito ruim, o pessoal da comissão técnica era muito isolado, eles só queriam colocar ordem e tinha que fazer o que mandava. Era um clima pesado, só sabíamos que tínhamos que gastar dinheiro para viajar, fazer tudo. Nessa gestão, a gente sabe bastante o que vai acontecer, quem tá apoiando, quem não tá, da onde vai vir o dinheiro, o que é feito com ele. A gente tem informação e conhecimento. Hoje é muito mais claro.

GC: O resultado no mundial juvenil, com quatro medalhas das meninas e um dos meninos. Como você viu esse resultado?
DL: Eu vejo que foi muito bom para o feminino, já que as meninas tão com a oportunidade de igualar os resultados masculinos. Para as meninas tá ótimo. Foi ruim no masculino, que foi só uma medalha de bronze com o Victor, mas foi bom para as meninas que conseguiram um excelentes resultado para sair da equipe junior para a principal.

GC: Você torce para que o Brasil seja sede das olimpíadas de 2016?
DL: Acho que não tá na hora não, tem que se preocupar com outras pessoas e não sediar uma olimpíada.

GC: Mas quanto ao esporte ou no geral?
DL: No geral, acho que o país tá passando por problemas, sempre passou, e não é sediando uma olimpíada que o país vai para frente. Acho que vai falhar em muitas coisas, deixar a desejar e acho que não é o momento. Precisa se preocupar com o país que está uma bagunça, quanto a saude, educação e não em sediar uma olimpíada.
LEANDRO GUILHEIRO

Na conversa com Leandro Guilheiro ao telefone, ele foi mais enfático ao criticar a mídia que acabou colocando a participação brasileira como decepcionante: " No mundial é outra coisa, na olimpíada não é que nem no atletismo, em que todos sabíamos que a Isinbayeva iria saltar 5m05 no salto em vara e sair com ouro ou que os campeões da natação seriam aqueles. No judõ é bem diferente e isso é o legal do judô. Tem muita gente querendo tirar medalha do peito dos atletas"

Disse, ao ser perguntado sobre os resultados do mundial, em que ficou na nona posição devido a uma contusão. " Muita gente que acompanha só o futebol por quatro anos quer da opinião e fala coisa errada. Alguns veículos, como o Sportv, fizeram um trabalho bom, com comentaristas especializados" completou.

Quanto a mudança de peso, ele, ao contrário de Denílson, declarou que não tem problemas com o peso e se tivesse com certeza iria mudar de categoria. "Não penso em sair dos 73kg" concluiu.
Ele comentou também os resultados do mundial junior, realizado em outubro, e que o Brasil saiu com cinco medalhas, quatro delas entre as mulheres. Vale lembrar que ele foi campeão mundial da categoria em 2002 " O judô masculino não foi bem, mas voltamos ao pódio depois de algumas edições fora. O legal foi a participação feminina mesmo, com quatro medalhas, duas delas de ouro."
Leandro acredita que as seletivas atualmente são mais justas que as antigas " Achei que a nova postura da CBJ é muito positiva pois muitas vezes um lutador que se dá bem na luta com o outro não representará melhor o Brasil".

Na entrevista, pelo telefone, ,Leandro contou que está sem pegar num quimono desde a disputa de medalha de bronze olímpica. Sua contusão nas costas ainda não está totalmente sarada e o principal objetivo de nosso bi-medalhista olímpico é disputar as seletivas no início do ano relativamente bem para ir com tudo no mundial.

Perguntei a ele se o fato dele ter perdido a vaga nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo para Luiz Camilo, irmão de Thiago, deu a ele mais vontade de disputar os Jogos de Atenas, em 2004. " Luiz estava realmente mais preparado que eu, e até saiu com o ouro no Pan. Perdi a última luta da seletiva faltando 2s. Isso com certeza me fez entrar nas seletivas para Pequim prestando mais atenção. Ajudou bastante sim".

Os dois judocas foram muito atenciosos e simpáticos dando respostas completas ao blog. Queria agradecer aos dois lutadores do Pinheiros.

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