domingo, 12 de outubro de 2008

Entrevista Gibran Cunha- Medalhista pan-americano de remo

Há cerca de 10 dias, entrevistei por e-mail Gibran Cunha, três vezes medalhista pan-americano pelo remo brasileiro, e, muito simpático, deu total atenção na conversa, com respostas completas.

Gibran é um dos remadores mais experientes do Brasil, está com 38 anos, e buscará vaga para seu quinto pan-americanos, que seá em 2011. Além disso, o atleta brasileiro falou sobre a emoção da primeira medalha pan-americana, da ""tragédia"" do oito com em 99 e sobre como anda o remo brasileiro na atualidade. Álém disso, diz que torce pela massificação do remo no Brasil e acredita no nosso esporte

Abaixo, a entrevista completa

Guilherme Costa: O remo brasileiro atual tem mais estrutura, divulgação na mídia, competições nacionais com públicos,participação em Copas do Mundo, do que quando você começou a remar?
Gibran Cunha: Com certeza a estrutura ainda é longe de ser a ideal, mas está muito melhor do que há 22 anos atrás quando eucomecei. Com o auxílio da Internet hoje ficou mais fácil divulgar o Remo, então acredito que também haja maismídia, porém ainda pouca se comparada a outros esportes. Sobre competições acredito que estamos amadurecendoano após ano e um dia teremos resultados internacionais.

GC: O remo é um esporte em que a idade não pesa tanto quanto em outros, vimos atletas de 35, 36 anosmedalhando. Qual você acha que é a idade máxima que um atleta pode brilhar? Você acha que dá pra chegar emGuadalajara 2011 ou até mesmo em Londres 2012?
GIC: Vimos o remador da Estônia, Juri Iansen ganhar uma medalha de prata agora em Pequim na prova do double-skiffpesado com 41 anos, então isso responde muita coisa. Tivemos o Redgrave aos 40 anos conquistando seu 5° ouroolímpico. Eu penso que se o remador tiver uma boa saúde e condições técnicas para treinar ele pode competir emalto nível mesmo após os 40 anos.Eu ainda pretendo competir no Pan de 2011, vai depender dos critérios da nossa seleção e de como eu vou estarem 2011. Ja para Londres tenho consciência da dificuldade de se classificar um barco de guarnição para umaolimpíada, mas nada é impossível com um bom trabalho.

GC: Você acredita que se os irmãos Carvalho, oitavo colocado em 84, ou mesmo o dois com, quarto lugar namesma olimpíada, tivessem medalhado, a história do remo brasileiro seria outra? GIC: Boa pergunta, imagino que sim, pois uma medalha na modalidade sempre tras consigo uma cobrança por novosresultados parecidos, e isso acarreta investimentos e massificação da modalidade.


GC: Qual é a atual situação de um remador brasileiro? Tem como viver só do esporte? Os clubes dão todo oinvestimento, ou a confederação e o bolso do atleta participam disso?
GIC: No início com certeza o remador brasileiro depende muito do seu bolso e do famoso "paitrocínio", mas assim queeste atleta conquista alguma expressão o clube já o ajuda com uma certa renda, transporte, estudos, material,etc.

GC: A TV mudou a história no Brasil de esportes como Volei, volei de praia e ginástica. Por que o remodificilmente passa nas telinhas brasileiras? É um pena, não?
GIC: Sem dúvida, na minha opinião o público de TV está muito acostumado a esportes de emoção contínua, como ofutebol, o volei e o basquete. O remo para se adequar ao modelo das TVs deveria mudar o formato das regatas,passando a disputa para distâncias menores, onde o público poderia acompanhar melhor as provas, além de termoschegadas mais disputadas, onde a decisão só ocorreria nos metros finais.

GC: Nos seus quatro Pans, você levou três medalhas de prata. Qual foi sua medalha mais "gostosa" de sereceber? Gostaria que você contasse o que aconteceu com o barco 8 com no pan de 99.
GIC: Com certeza a Prata mais gostosa foi a primeira, a de Winnipeg, pois além de ser a primeira medalha que euconquistava num Pan ela veio justamente numa prova lindíssima, disputada metro a metro com o barco argentino,ora nós liderávamos, ora eles, e na linha de chegada deu Argentina somente 26 centésimos a frente. Foi muito emocionante e bastante lembrada até hoje por todos que estavam lá.Na prova do 8 nós tínhamos uma ótima chance de conquistar uma medalha. Tínhamos uma equipe fortíssima ebastante experiente. Na altura dos 1000mts de prova havia muita marola, muita mesmo, daquelas perigosas de seprender o remo, e por infelicidade do destino o nosso voga, Periquito, atolou seu remo e não conseguiu livrá-loa tempo pra voltarmos à prova. No momento estávamos em 2° lugar e já íamos despachando os argentinos e cubanos,porém, perdemos segundos preciosos nessa manobra e cruzamos na última colocação. Foi triste, mas só aconteceessas coisas com quem está lá no momento, e consolamos nosso amigo e respeitamos seu erro como poderia ter sidoconosco também.


GC: Estive nas regatas de remo do Pan do ano passado e vi muitas críticas á atuação dos brasileiros. O quevocê acha que faltou para o ouro, para primeira medalha feminina e para igualar as seis medalhas de 2003?Alguma coisa mudou depois da disputa do Pan aqui no Brasil em relação aos clubes e confederação?
GIC: Os países todos vieram muito bem preparados para este Pan do Rio. Todos queriam representar bem seus países ede quebra conhecer a famosa cidade maravilhosa. E assim foi, tivemos adversários duríssimos que complicarambastante o lado dos brasileiros na busca por medalhas. Críticas sempre vão existir, mas acredito que elas devamser analisadas e que se tirem proveito de algumas. Na minha opinião o Brasil precisa de um técnico chefe queseja estrangeiro, que more no Brasil e comande a seleção em full time, e utilize os técnicos brasileiros paradoutriná-los. Mas esse estrangeiro deve ser alguém com renome internacional, um cara com títulos mundiais eolímpicos, só assim sairemos do marasmo desses resultados de anos sem expressão


GC: Equipes emergentes como Venezuela, Uruguai estão roubando espaço de Brasil e Argentina no continente. No Pan, vi várias vezes nossos barcos atrás destes países. Nós paramos de crescer em termos de resultados?
GIC: Se voce não inova, não investe pesado, e não abre a cabeça pra ciência corremos o risco de parar no tempo,enquanto os emergentes parecem estar mais abertos às novidades e porisso começam a pontear numa prova e outra


GC: Geralmente, as crianças começam no esporte em função de ter visto ídolos conquistando resultados expressivos. Você começou no remo por causa de algum ídolo? No momento, o país está carente de um ídolo no remo, ou você acredita que o Macarrão está cobrindo essa lacuna?
GIC: Quando eu comecei os irmãos carvalho estavam prestes a conquistar a sua segunda medalha de ouro em Pans, e issocom certeza foi a minha maior motivação. Pra voce ter uma idéia de como são as coisas, eu era de Floripa e nemimaginava remar um dia no Rio de Janeiro, mas hoje o Ronaldo de Carvalho é meu dentista, rsrsrs, só umacuriosidade pra se entender do que um ídolo é capaz. Até hoje eu admiro o Ronaldo como atleta.O Macarrão é hoje o melhor remador do Brasil, desde sua primeira olimpíada em Sydney 2000 que ele ocupa esseposto, e com toda certeza é o ídolo do nosso esporte, assim como a Fabiana Beltrame é no feminino.

GC: Espaço aberto para você falar o que quiser, completar alguma coisa, citar alguma competição. Esteja avontade para falar aos leitores do blog
GIC: Cara, eu acredito no Remo, no esporte e no coletivo. Imagino um dia onde as coisas fluam mais naturalmente ecom isso consigamos expressão internacional com medalhas em campeonatos internacionais, vários ourosPan-americanos, etc.. Mas pra isso a gente precisa desde já abrir nossas cabeças para as novidades científicas e tecnológicas que os países de ponta já utilizam há mais de dez anos. Além de investimentos pesados emestrutura física, massificação da modalidade junto a municípios com potencial de rios e lagoas espalhados poresse Brasilzão.Enfim, vamos pensar grande e vamos deixar algum legado decente pras futuras gerações de remadores.Valeu galera, e valeu pela oportunidade Gui.

Um comentário:

  1. ótimas as entrevistas, guilherme!!! todas elas!!!

    passando apenas para parabenizar. abs

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