domingo, 12 de outubro de 2008

Esporte á esporte- Levantamento de peso

O levantamento de peso é sem dúvidas o esporte olímpico mais carente do Brasil em termos de divulgação da mídia, resultados em termos mundiais, atenção do público. Porém, isso tem tudo para ser mudado, com o Brasil tendo o melhor atleta juvenil das Américas, alguns clubes investindo mais no esporte e principalmente se o esporte conseguir se massificar, com milhares de praticantes, como acontece em países como Colômbia, Venezuela e Equador. Vale lembrar também que o esporte é usado como esporte auxiliar, e o trabalho feito no esporte ajudou as seleções brasileiras de volei, handebol e pólo aquático rescentemente, por exemplo.

Neste ano, tivémos dois casos "extra-campo" que tumultuaram ainda mais a modalidade. O primeiro foi no primeiro semestre, quando um atraso na eleição da Presidência da Confederação Brasileira fez com que o COB entrasse com um interventor na entidade" Um dos motivos era que a eleição era para ser feita em janeiro, mas nunca desde a criação, em 1979, a entidade fez as eleições neste mês" Disse essa semana o então presidente e atual secretário da Organização Pan-americana do esporte, David Monteiro. Outro fato ocorrido na modalidade foi a retirada do local de treinamentos que a ex-atleta olímpica e atual presidente da Confederação Mineira de Levantamento de peso Maria Elizabeth Jorge, que mantinha um treinamento com 32 jovens, campeões brasileiros infanto juvenil e infantil, na Universidade de Viçosa, em Minas Gerais. "Foi um pedido do Hamilton, atual interventor do COB na confederação, que não gosta de mim não sei porque"- Relatou Beth por telefone na semana passada- Ele disse que eu falei uns palavrões para ele e mandou um ofício de retirada para mim, que estou aqui há 18 anos"

Apesar desta confusão, o Brasil tem um grande atleta nas categorias de base. A promessa para o futuro do Brasil é Fernando Saraiva, de 18 anos, atleta do Pinheiros, foi tri campeão pan-americano nas categorias juvenis e que foi eleito duas vezes o melhor atleta das américas na categoria. "Garoto para o futuro, para o próximo pan e próxima olimpíada com certeza" Lembra o ex-atleta olímpico e ex-técnico da seleção brasileira de levantamento de peso e atual técnico do time do Pinheiros Edmílson Dantas sobre seu pupilo. "Ele está levantando 192kg e foi 10º colocado no mundial até 20 anos, mesmo tendo apenas 18. Ele está na mesma categoria que eu disputei, eu levantei 197kg, melhor marca até então no Brasil na categoria ate 105kg, e ele com 18 anos já levantou 192kg" Lembra Dantas, que confia que o Brasil ganhe a primeira medalha em mundiais em 2010, com Fernando, no mundial sub 20.

O esporte está tão renegado que nem o Comitê Olímpico acreditava que a Brasil podia sair classificado do pré olímpico das Américas, disputado em maio, em que conquistou uma vaga. O esporte não entrou na lei do incentivo que ajudaria o Brasil na preparação dos atletas para Pequim. "Eu tinha certeza que ao menos uma vaga conseguiríamos. E só não conseguimos duas porque os EUA perderam a vaga pelo mundial por meio ponto, o que fez com que eles disputassem o pré olímpico das Américas e "tirassem" uma vaga nossa" Constatou Edmílson, que não popou críticas a entidade. "O COB sempre tomou decisões que não me agradaram e esta foi mais uma. Por falta de informação e até mesmo por falta de conhecimento da modalidade, que muitas vezes faltam a eles, não deram esse incentivo para gente"

A participação olímpica de Wellison Silva, atleta do grupo de treinamentos de Beth Jorge, em Viçosa, foi mediana, com a 19ª posição entre os 29 atletas que disputaram. "O atleta que foi para lá, ficou sete meses sem receber e recebeu 10 dias antes de embarcar e eu recebi só dez dias depois de cheguei no Brasil "- Comentou o ex técnico da seleção brasileira de levantamento de peso Edmílson Dantas, cinco vezes medalhista pan-americano e participante de três olimpíadas. "Eu pedi demissão dias após minha chegada quando percebi que não tinha recebido" Contou em entrevista a mim no clube Pinheiros na última semana. "

Precisava comprar um par de botas para Welison, os caras(do COB) mandaram eu procurar, que dependendo do preço eles comprariam. Eu paguei táxi para tirar o visto para ir a China sem ter recebido a 7 meses espero reembolso . Tanto dinheiro que o Comitê vem recebendo, não comprar botas é brincadeira. Eu pedi demissão porque falta profissionalismo, fizeram intervenção fora de hora,atrapalhando a participação brasileira nos Jogos Olímpicos e compeonato mundial juvenil, espera acabar o ciclo olímpico. Eu não poderia continuar trabalhando com eles nessas condições" Disse "Dima", justicando a queda de Welisson na tentavida em Pequim, dizendo que as botas que ele usava não eram as mais adequadas para a competição.

"A bota, que não era a que eu queria, acabou não deixando ele estabilizar e ele acabou caindo em função da bota. Falaram que a barra caiu na cara dele e tal, ele levantou na mesma hora, sinal que não aconteceu nada de mais. A cena que pega é dele no chão" Disse o então técnico da seleção, que falou que a mídia gosta do "Aqui Agora e do Piegas" da modalidade, criticando a forma que os meios de comunicação divulgam o esporte, muitas vezes até mesmo afastando possíveis atletas da modalidade.

A modalidade tem muito a oferecer, já que é usado como esporte auxiliar. As seleções de handebol, polo aquatico e volei fizeram um trabalho muito bom com o levantamento de peso, e em alguns delas foi o próprio Edmílson que coordena. Nos EUA, por exemplo, todas as crianças começam a treinar o levantamento de peso desde os 7 anos, independente da modalidade que pratica.

Voltando para a parte política da situação do levantamento de peso, Dima foi enfático "Todo mundo que já fez algo foi expelido da modalidade, e os que sobram querem expelir de qualquer maneira. A tendência é expelirem cada vez mais. O interventor quer aparecer mais que a modalidade, um cara do futebol que é amigo do pessoal do COB. Precisa fazer uma comissão de atletas para junto ao Ministerio do Esporte avaliar o que o COB está fazendo, porque são poucos atleta a favor do sistema empregado por eles . Poucos são a favor de a olimpíada ser aqui no Brasil pois todos sabem que tem coisas no esporte que precisa melhorar antes de pensar em OLÍMPIADA " Criticou o técnico atual do Pinheiros, que diz que o clube dá uma estrutura ideal, desde o material até apoio aos atletas . "O Brasil deve muito ao Pinheiros no Esporte em termos de estrutura temos 109 anos . Funciona até melhor do que o COB no desenvolvimento esportivo,pela a maneira como leva o esporte a sério"" Acho que tem que ser uma iniciativa independente, sem estar ligada ao COB. Pouca gente envolvida com a modalidade está na confederação. Não dá para trabalhar baixando a cabeça" Lembrou Dima,

A intervenção pelo COB veio por três motivos: O número de advogados, sete, seria menor do que os nove que a Lei Pelé manda no estatuto. O segundo motivo era que as eleições deveriam ter sido realizadas em janeiro e o último é que a entidade não tinha um endereço fixo. " Na Universidade Federal de Viçosa, não tem o número nome da rua e por isso o endereço não estava completo"- Justificou o então presidente David Monteiro.O ex-presidente ainda foi enfático ao ser perguntado como está a nova direção da entidade " Não existe ainda o presidente. A eleição não foi convocada, tem de haver uma assembléia e aí sim a eleição". Beth Jorge vai mais além" As Confederações deveriam se unir para conseguir a nova eleição"

Dima, o principal ícone da história brasileira no levantamento de peso explica o sucesso da modalidade em países, na teoria, mais sub-desenvolvidos que o Brasil no esporte, como Colômbia e Venezuela, medalhistas nas últimas olimpíadas na modalidade. "Na Colombia, temos 4000 atletas e daí sim é mais fácil achar um campeão. O que aguentar mais, tiver mais cabeça vai se destacar. Aqui no Brasil, temos 200 atletas e olha lá. Tenho que treinar com cuidado meus atletas aqui pois se eles se machuicarem, meio que acaba o levantamento de peso no Brasil. Lá, assim como na venezuela e Equador, o esporte está massificado, principalmente pelo fato de só gente do levantamento de peso estar envolvida"

Porém aqui temos um programa que tem seus problemas, mas é um sucesso. Alguns atletas ganham o benefício do Bolsa atleta e conseguem viver do levantamento de peso. O atleta consegue muito mais fácil que eu de levar a vida só com o levantamento de peso. A lei do incentivo ao esporte, o atleta que vai á olimpíada tem um salário de quatro anos, o investimento dos clubes é maior do que na minha época. Porém, tem muita gente que não merece e ganha esse investimento. O investimento é selecionado com uma avaliação não muito precisa. Tem pouca gente praticando o levantamento de peso e caso você vá para um sul-americano vazio, o atleta pega medalha e ganha bolsa durante um ano, mesmo com um resultado em termo de quilos não muito bom. Talvez se pessoas ligadas á modalidade dessem essas bolsas seria mais interessante.

Quanto aos resultados, o mais expressivo rescentemente veio no Pan mas foi rapidamente apagado. A única medalha que o Brasil havia conquistado no Pan de 2007, com Fabrício Mafra, foi retirada por conta do dopping. Uma história mal explicada ainda, em que o atleta havia feito um exame preventino antes do Pan, a pedido do então técnico Edmílson Dantas, e este havia dado negativo. Depois, o que foi divulgado foi que houve uma suspeita e o equipamento ainda não havia chegado durante o exame preventivo só após o inicio das competições."Os dois testes foram positivos e alguém cometeu um erro que não quer assumir" Comenta Edmílson sobre o assunto. "Eu era o cara mais tranquilo do mundo no Pan porque sabia que todos nossos atletas tinham feito o teste preventivo" Completou.

Já o levantamento de peso feminino, que bateu na trave duas vezes na medalha dos Jogos Pan-americanos, é mais "fácil" de se ganhar medalhas, já que o esporte é mais novo e os nosso rivais americanos não evoluíram tanto. O único país que se destaca mais na modalidade é a China, que iniciou o trabalho em 1993 para colher os resultados em 2008, quando levou oito medalhas de ouro. Beth diz ter em seu grupo de alunos uma atleta que está se destacando, com apenas oito meses de treinamento, e que já levanta 70kg no arremesso e 45kg no arranque.

Esse tipo de iniciativa, a de Elizabeth, não pode ser esquecida e temos que torcer para que o prefeito da cidade, Raimundo Violeira reeleito esse fim de semana, faça o que prometeu, e que em 120 dias consiga um lugar para nossa heroína trabalhar. A resposta do reitor da UFV, local de trabalho da equipe de Beth, mostra como o halterofilismo é visto no país " Esse esporte não tem cultura no país".

Mas Beth terminou a conversa comigo com uma frase que pode ser adaptada para todo esporte olímpico brasileiro, principalmente o levantamento de peso: " Eu não desisto não. Eu caio, mas levanto"

2 comentários:

  1. Espetacular matéria Guilherme. Deu para entender bem a realidade deste esporte, que é o menos divulgado dos olímpicos, no Brasil. Se você descobrir algum site que traga resultados das competições de levantamento de peso, me avise.

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  2. É lamentável que isso ainda aconteça no Brasil.

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