20 pílulas do Mundial de Shangai

Tudo já começou errado
O Mundial de natação começou todo errado para o Brasil. Doping de Fabiola, Doping de Cielo,Henrique e Nicholas, desistência de Tales...Como já escrevi aqui,isso tirou o Brasil de quatro finais quase certas: Nicholas seria o maior adversário de Cielo pelo ouro nos 50m borboleta e ainda com certeza ajudaria o Brasil a chegar a final do 4x100m livre,já que Macedo, seu substituto, fez um tempo ruim, de 50s32. Fabiola chegaria a semifinal dos 100m costas e a final dos 50m costas com os tempos que ela fez esse ano. Tales seria finalista dos 200m peito com seu melhor tempo,mas desistiu do mundial depois de ser convocado de último hora.
Antes de tudo, a CBDA não levou atletas que fizeram índices apenas para provas não olímpicas, o que concordo. E isso acabou tirando outra final certa, a de João Junior.
Seriam, logo de cara, cinco finais bem possíveis a menos do que em 2009.
Mais medalhas, menos finais
Três ouros para o Brasil nas piscinas, resultado histórico. Ouro de Cielo nos 50m livre e 50m borboleta. Ouro de Felipe nos 50m peito. Terceira posição no quadro de medalhas por ouro, o que PARA MIM, não importa tanto, apesar de ser uma posiçao incrível!
Porém, o número de finais caiu. Caiu não,despencou. Em 2009,foram 18 finais, 12 em provas olímpicas, 14 dos homens e 4 das mulheres. Em 2011, 6 finais, quatro em provas olímpicas, todas com os homens.
Resultado bem abaixo do esperado. Mas, vale lembrar que o Brasil "iniciou" o mundial com 5 finais a menos e ainda tivemos Thiago fora dos 400m medley, que naturalmente seria finalista. Mas foi ruim...
Só um revezamento em Londres
O Brasil chegou ao mundial com o sonho de já classificar os 5 revezamentos para Londres. No primeiro dia, sem Cielo e sem Nicholas, ficou em 9º no 4x100m livre, sem final mas com vaga olímpica. Nas parciais, Bruno abriu não tão bem, 49s06, Nicolas muito bem com 48s20,Marcos Macedo mal com 50s32 e Marcelo Chieriguini, que acho que vai ser titular para Londres,fechando com 48s70. No 4x100m feminino, a vaga ficou próxima, mas as parciais ruins e só 14 equipes participaram, talvez por isso ficamos próximos a Londres. Tati abriu mal com 55s68, Daynara e Flavia na casa de 56s em revezamento, mal, e Michelle fechou até que bem com 55s83.
O 4X200m livre só teria chances de final se Thiago Pereira, recordista brasileiro da prova, nadasse.Para Londres, a vaga ficou a pouco mais de 1s.Nicolas nadou para 1m49s,mas nadou pior que na prova individual.O reserva João de Lucca,por incrível que pareça, foi o melhor, quase 1s a frente de André e Rodrigo Castro.
O Medley feminino foi, desculpa a palavra,desastroso. Etiene,que fez 1m02s outro dia, nadou para 1m04s.Carol, que esse ano fez 1m11s, fez 1m14s, Daynara e Tatiana pegaram tão atrás que não teve jeito. Uma participação pífia, ninguém chegou perto de seus melhores tempos.
O medley masculino foi triste. Guido abrir para 55s, uma pena. Felipe foi bem, 3ª melhor parcial do peito entre todas equipes, Kaio foi horrível. 53s49 na parcial. Bruno fechou bem, mas não conseguiu levar o Brasil a Londres.
Acredito que o revezamento medley não tenha a mínima dificuldade de se classificar para Londres. O 4x200m masculino também deve ir a Londres, pois Thiago Pereira provavelmente nadará na seletiva e depois abrirá mão na Olimpíada. Os times femininos eu já não sei o que esperar. O medley feminino é bom, nadou muito mal no mundial, mas tem quatro nadadoras boas. O livre eu acho um pouco mais difícil, mas dá. Apesar de que rolam uns boatos que a CBDA não vai querer levar esses revezamentos.
Piorar o tempo
O Brasil foi com 19 nadadores para Shangai. Como já escrevi algumas vezes, o primeiro objetivo de qualquer atleta no mundial deve ser melhorar seu tempo do ano.
Isso, apenas Cielo(50m e 100m livre), Bruno(50m), Nicolas(200m), Felipe (50m e 100m peito), Leo de Deus(200m borboleta e costas) e Daynara (50m borboleta). Desses, apenas Cielo,Nicolas e Daynara fizeram seus melhores tempos nas finais ou na última aparição no mundial.
Os outros não fizeram a ""obrigação"" no Mundial, que seria, ao menos melhorar seus tempos.
Mais um dos motivos para que os brasileiros tenham decepcionado em Shangai
Cielo, o monstro
O que Cielo fez na prova dos 50m livre nunca foi visto na história. Venceu com quase quatro décimos de vantagem para o segundo colocado. É absoluto nos 50m livre. Os 50m borboleta também foi espetacular, outro ouro, dessa vez numa prova não olímpica.
Nos 100m, fez o que pôde. Nadou para seu melhor tempo no ano, liderou bem e cansou no final, terminou em 4º. Uma prova muito, mas muito parecida mesmo com o Mundial de 2007, quando ele ficou em 4º depois de liderar quase toda prova.
Depois de tudo que aconteceu com ele, um mundial memorável.
Cielo, por que não nadar??
Os revezamentos brasileiros, no papel,teriam tudo para brigar pelo pódio. Porém, o melhor nadador, Cesar Cielo, não nadou nas eliminatórias, o que deixou a equipe fora da final em ambos os casos. Um absurdo. Não sei se Cielo que pediu, não sei se a comissão técnica que escolheu. Não sei. Eu sei que é um absurdo Cielo ser poupado.
Isso precisa ser revisto. Já em Pequim, o Brasil tinha um revezamento capaz de brigar lá em cima e Cielo foi poupado no medley.
Thiago e Kaio as decepções
Quem costuma ler meu blog sabe que eu sempre defendo os atletas brasileiros e muito dificilmente uso a palavra decepção. Mas, infelizmente, nesse caso tem que ser usada para esse dois grandes nadadores brasileiros. Eles vinham de quartos lugares no mundial de 2009 e pareciam ter feito uma preparação certa para Shangai. Chegaram a China com chances reais de medalha.
Thiago Pereira começou bem,fez um tempo muito bom na eliminatória. Na semifinal,já não esteve bem. Mas, nadador fora de série é assim. Mesmo nadando mal, chega a final. Aí na final ficou em 6º piorou seus tempos e quando todo mundo achou que finalmente ia dar, ainda não foi dessa vez.
Kaio Marcio nem foi a final dos 200m borboleta, sua especialidade. Nos 100m, poderia ter ficado entre os 16, mas piorou mais de 1s seu tempo. No revezamento também foi mal.
Realmente não entendo o que aconteceu...
Leo de Deus, a grande surpresa
Leonardo de Deus chegou quetinho no mundial. Ninguém dava muito para ele, mas caiu na água nos 200m borboleta e nadou para 1m55s55. Foi para semifinal com o 2º melhor tempo. Na semi, não nadou igual, mas fez o que dele se esperava. Foi semifinalista!
E, nadando na casa de 1m55s, entrou para elite dos 200m borboleta. Com esse tempo, seria finalista.
Nos 200m costas,prova que não é sua especialidade, nadou perto do recorde brasileiro e foi semifinalista.
Bruno, a grande confirmação
Desde o ano passado, Bruno Fratus já estava entre os melhores do mundo nos 50m livre. Mas, em seu primeiro mundial, confirmou essa teoria. Fez uma semifinal espetacular, com 21s76, entrando na final com o melhor tempo. Na final, fez o que pôde, ficou em quinto, a 0s04 da medalha. Mas, piorou o tempo com relação a semifinal.Se fizesse o tempo da semi, seria prata. Mas confirmou que pode sim ser medalhista em Londres no individual.
Felipe, o grande nome
Tirando Cielo, que é o cara, Felipe França foi o nome do mundial. Primeiro, claro, pelo título mundial nos 50m peito. Aquele que ficou engasgado em 2009. Depois, por sua performance nos 100m peito, prova olímpica na qual está cada vez melhor. Fez 1m00s01 nas eliminatórias dos 100m peito, depois piorou muito na semifinal e não foi para final. Mas esse 1m00s01 daria o quarto lugar para ele na final. Irá a Londres com tudo!Ainda foi o melhor brasileiro no revezamento medley, com a 3ª melhor parcial entre todos que nadaram.
Muito bem numa fase e piorar na outra
Os três últimos tópicos tiveram algo em comum:Os brasileiros foram muito bem nas fases eliminatórias, mas não repetiram essas marcas na fase seguinte. "Nadar na raia 4, com todo mundo te olhando é outra coisa" garante Leo. Felipe saiu fulo da vida depois da semi dos 100m peito e não quis falar. Bruno piorou um pouco seu tempo na final, mas ainda assim fez seu 2º tempo do ano.
Alguns já começaram a falar que os brasileiros precisam de psicólogos e aquela ladainha toda que adoram falar que brasileiros amarelam. Mas isso é absolutamente normal, principalmente para aqueles atletas, como os três citados, que não eram favoritos no início do mundial. Só em Shangai, tivemos muito e muitos casos como este: Marco Di Carli tinha o melhor tempo antes do mundial começar nos 100m livre, não foi nem a semifinal. O francês Yanick Agnell começou o mundial entre os melhores tempos do mundo nos 200m e 400m livre, ficou fora do pódio nos dois. A espanhola Mireia Garcia fez o segundo melhor tempo na eliminatórias dos 200m medley,mas depois ficou fora da final. Enfim, para citar só alguns.
Nicolas de volta
Depois de um 2010 apagado, com contusões e dificuldades, Nicolas Oliveira fez um mundial muito bom. Foi o melhor do revezamento 4x100m livre e melhorou duas vezes seu tempo do ano nos 200m, se classificando para a semifinal da prova. Ficou perto de nadar na casa de 1m47s. Só pecou UM POUCO no revezamento 4x200m, que podia ter aberto para 1m48s, pelo menos.
Henrique de novo no quase
Henrique Rodrigues ainda é jovem mas já está em seu segundo mundial adulto. Assim como em 2009, foi semifinalista dos 200m medley. Em Shangai, se fizesse seu melho tempo do ano, seria finalista. Mas, optou por uma outra estrategia, nadou forte pro 150m, morreu no fim e ficou acima dos 2 minutos. Mas, fez dele o que se esperava no mundial. Brigou pela final.
Guido e Felipe Lima bem acima de seus tempos
Acho que um atleta que não tem tantas chances de brigar pelo pódio faz um mundial digno quando faz seu melhor tempo do ano, ou ao menos chega perto disso. Isso não aconteceu nem com Guido nem com Felipe. Felipe caiu na água só uma vez, logo no primeiro dia, ficou quase 1s acima de sua marca e fora da semifinal. Guido teve três chances de nadar bem, não o fez em nenhuma. E dessa vez, nem bateu na raia, o que costuma fazer que piorava bastante seu tempo.
Natação feminina ruim
Um mundial para esquecer. Não só pelos resultados ruins, apenas Daynara de Paula chegou a semifinal, nos 50m borboleta, mas também porque ninguém melhorou seus tempos. Os revezamentos, já comentados, não chegaram ao objetivo. Flavia e Tatiana nãõ fizeram suas melhores marcas em 2011 e ficaram de fora dos 50m e 100m livre respectivamente. Carol Mussi nadou muito mal tanto os 100m peito como o revezamento. Etiene fez, na prova individual, 1m05s, sendo que tinha 1m02s no mês de maio. Nos 50m costas, seria semifinalista se repetisse o tempo do Maria Lenk. Daynara de Paula foi a única a melhorar, nos 50m borboleta, mas piorou nos 100m e ficou de fora da semifinal.
Lembrando que em 2009, foram quatro finais, duas delas em provas olímpicas, além de três semifinais.
Aos críticos
Já vi pipocar por aí em vários sites e blogs, muitos deles que eu respeito e tenho uma boa admiração, que a participação do Brasil foi um vexame e tal. Confesso que fiquei decepcionado, já escrevi isso várias vezes por aqui e no twitter.
Mas não chamaria de vexatória uma campanha com três medalhas de ouro. Tá, duas provas não são olímpicas e ISSO DEVE SER DEIXADO CLARO, mas é um campeonato Mundial e não uma Olimpíada. E o Brasil volta do Campeonato Mundial de NATAÇÃO com três ouros, terceiro colocado no quadro de medalhas.
Como já falei aqui várias vezes, não concordo con um Quadro de Medalhas que seja definido no número de ouros. Mas, quando o Brasil fica em 23º por ouro numa Olimpíada ninguém lembra que foi o 18º que mais ganhou medalha, todo mundo só lembra que ficamos atrás de Quênia, Etiópia e Jamaica. Agora, quando ganha três ouros, fica em 3º no quadro da natação(Ainda falta as finais de hoje) ficam colocando asteriscos nas conquistas.
Para quem acha que o Brasil ficou em 52º lugar na Olimpíada de 2000(Não conquistou nenhum ouro), então o Brasil é a terceira força da natação mundial, já que ficou em terceiro no quadro por ouros.
Para quem valoriza muito mais o número de finais e de medalhas do que simplesmente o número de ouros,o Brasil está num escalão emergente ainda na natação, abaixo quatro TOPS.
Só queria coerência. Se o que vale é ouro, é ouro. Se o que vale é final, é final. Se o que vale é medalha, é medalha.
Não vale ficar destorcendo todos os quadros sempre para deixar o Brasil para baixo.
E o Pan?
Em outubro tem os Jogos Pan-Americanos. Mas, no nível que a natação brasileira está, principalmente a masculina, Guadalajara será mais importante para marcas e índices(principalmente aos revezamentos) do que propriamente as medalhas. Será muito legal acompanhar o Pan, que é uma competição que eu tenho muito carinho, serão importantes os resultados, vou vibrar a cada ouro e a cada marca, mas o foco é Londres.
Foi-se o tempo que a natação esquecia o mundial para nadar o Pan, como aconteceu em 2003(Brasil levou pouquíssimos atletas para o mundial, disputado 15 dias antes do Pan) e em 2007, quando o êxtase do Pan do Rio levou o foco do ano para julho e não para março, quando o mundial foi disputado. O foco agora é Londres. O foco deste ano foi o Mundial.
E para Londres?
Essa é a dúvida que não quer calar. Quais são nossas chances para Londres 2012? Falta ainda um ano, mas já dá para saber que Cielo vai chegar como favorito aos 50m livre, se nada mudar até lá. Cielo também irá forte nos 100m e, se nadar os revezamentos, o Brasil chega forte tanto no medley como no livre.
Thiago Pereira acredito que vai chegar bem a Londres. Não foi bem no mundial, saiu dos 400m medley, mas acho que para os 200m ele vai chegar, de novo, entre os melhores na Olimpíada.
Kaio Marcio que eu estou com um pouco de receio. É um baita nadador, gosto muito dele, foi finalista olímpico e do mundial de 2009. Em 2011, vinha numa boa temporada, mas fez um mundial mediocre. Muito ruim mesmo. Se não abrir os olhos, vai ficar difícil brigar por uma medalha.
Por outro lado, esse mundial provou que Felipe já compete quase de igual para igual com os melhores do mundo nos 100m peito. Isso dá uma esperança para o Brasil não só na prova individual como no revezamento medley.
Shangai também provou que Bruno Fratus pode muito bem chegar a Londres como candidato ao pódio. Quinto lugar foi espetacular.
Henrique Rodrigues e Leo de Deus precisam melhorar de dois a três segundos seus tempos para chegar a Londres com chances de medalha. Para chegar a final, é melhorar um pouquinho.
O time feminino depende de Fabiola e ou Daynara para uma final olímpica. O que parece é que aquela geração que com 15, 16 anos surpreendeu ao conquistar índices para o Pan de Winnipeg 99, Flavia Delaroli, Tatiana Lemos e mesmo Monique Ferreira entre outras, já não sustentam mais a natação. Precisamos de novos nomes.
Em Pequim, foram seis finais, duas medalhas. Cinco finais para os homens e uma para as mulheres. Acho que esse número tem tudo para aumentar em Londres, apesar de um mundial bem abaixo do esperado.
Mesmo assim, 2º melhor mundial da história
Temos que criticar, temos. Foi abaixo do esperado? Foi. Mas precisamos lembrar que, com as seis finais, quatro delas em provas olímpicas, o Brasil fez a segunda melhor campanha em mundiais na história. Em 2009 foram 18, em 1998 foram cinco, sem nenhuma medalha. Em 2007, foram quatro finais.
Um ponto para natação brasileira. Apesar de toda decepção desse mundial, ainda foi o 2º melhor da história.
Potência no masculino?
Escrevi há alguns meses que o Brasil era uma potência na natação masculina. Não retiro o que disse, pois o país é sim. Não foi uma potência no mundial, mas é uma potência sim.
Temos o nadador mais rápido do mundo,temos um nadador TOP do peito, um TOP do borboleta e um TOP no medley. Além disso, temos quatro nadadores chegando neles, que é Bruno, Felipe Lima, Leo de Deus e Henrique Rodrigues.
A pedra no sapato continua sendo o nado costas e o fundo. O primeiro, temos Guido que não faz seus melhores tempos em grandes competições. O outro, parece começar a renascer e tem tudo para levar dois ou três para Londres, mesmo sem ter levado ninguém para Shangai.
Claro que o que vale é o mundial e, nesse ano, era a competição mais importante. Mas vale ressaltar que, nesse ano, temos atletas entre os dez primeiros em seis das 13 provas individuais olímpicas, em nove das 17 provas individuais do mundial.

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