terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010 - Tênis

O tênis brasileiro em 2010 teve altos e baixos. Começou com um título inédito no juvenil e alcançou bons resultados na temporada de saibro. No segundo semestre, entretanto, sequência de maus resultados, vexame na Copa Davis e, no apagar das luzes, esperança de um 2011 mais vitorioso.

Juvenil: título histórico e grande esperança para Londres 2012
Tiago Fernandes (foto), alagoano de 17 anos, é treinado desde 2008 por Larri Passos, técnico do maior tenista da história do país, Gustavo Kuerten. Em 2010, chegou a Melbourne para a disputa do Aberto da Austrália como cabeça-de-chave número 14. Teve partidas difíceis ao longo do torneio e nas semifinais venceu o segundo cabeça-de-chave, o francês Gianni Mina. Na final, contra o tenista da casa Sean Berman, que entrou no torneio a convite da organização, Tiago venceu com o placar de 7-5 e 6-3, se tornando o primeiro brasileiro a vencer um Grand Slam juvenil.

Ainda em 2010, Tiago chegou às quartas-de-final em Roland Garros e às oitavas em Wimbledon e no US Open, e alcançou a liderança do ranking mundial em 26 de abril. A redução do número de torneios no final da temporada levou o tenista a terminar 2010 em sexto lugar no ranking. Para 2011, Tiago e Larri decidiram começar o processo de profissionalização, abdicando do direito de defender os pontos do juvenil e tentando vaga na chave principal adulta do Aberto da Austrália.

Guilherme Clezar, outro destaque do tênis juvenil brasileiro, chegou às quartas em Melbourne e à segunda rodada em Roland Garros e no US Open. Nas duplas, foi semifinalista em Nova York.

No feminino, pouco destaque e poucos resultados
Ana Clara Duarte, melhor brasileira no ranking da WTA (236ª), não conquistou títulos relevantes em 2010, mas fez uma boa passagem por torneios australianos, chegando a três finais em cinco torneios (e vencendo uma). Maria Fernanda Alves, 344ª do ranking, teve um ano ainda mais apagado, chegando a duas finais e perdendo as duas. A falta de renovação e de apoio parecem ser os principais problemas das meninas do Brasil, que desde 1993 não aparecem na chave principal de um Grand Slam.

Circuito masculino: esperanças e decepções
A temporada 2010 começou para Thomaz Bellucci com resultados medianos no Pacífico, parando na segunda rodada em Melbourne. Na América do Sul, conquistou o título de Santiago e decepcionou na Costa do Sauípe, não passando das quartas. Ainda no saibro, chegou às oitavas em Roma e Madri e atingiu o ápice da temporada ao enfrentar Rafael Nadal nas oitavas de Roland Garros. Após a esperada derrota, os resultados pararam. No verão norte-americano, duas derrotas prematuras em Masters 1000 e uma eliminação em cinco sets no US Open. Na sequência dos torneios em quadras duras, novas derrotas prematuras em Shanghai e Paris e um fim de temporada com sabor de decepção.

Decepção que só não foi maior que a provocada pelo resultado da Copa Davis. Após despachar o Uruguai no grupo das Américas, a repescagem contra a Índia parecia fácil. Embora o favoritismo no jogo de duplas fosse inteiramente dos indianos, vencer três dos quatro jogos de simples não devia ser tão difícil. Mas foi. No primeiro dia, dois jogos de cinco sets, e vitórias suadíssimas de Bellucci e Ricardo Mello. No sábado, a esperada derrota nas duplas. O Brasil chegava ao último dia precisando vencer apenas um jogo para retornar à divisão de elite do tênis mundial. E ela não veio. A forma com que tudo aconteceu tornou aquele fim de semana em Chennai traumático. Na primeira partida, Bellucci não aguentou o calor e, sem comunicar ao capitão ou aos colegas de equipe (vale lembrar, a Davis é uma competição por equipes), abandonou a partida (foto). Como Ricardo Mello não teve tempo para se aquecer ou se concentrar, o fator casa fez a diferença e a Índia virou o placar, vencendo por 3 a 2 e se mantendo na elite. Ao Brasil, resta disputar novamente o grupo das Américas e tentar novamente a vitória na repescagem em 2011.

Os outros brasileiros no circuito tiveram desempenho mais discreto. Ricardo Mello venceu dois Challengers e foi semifinalista na Costa do Sauípe. Marcos Daniel se tornou o maior campeão de Challengers da história após os títulos de Blumenau, Medellín e São Paulo (neste último, vencendo Bellucci na final). João Souza, o Feijão, venceu dois Challengers em Bogotá, mas não alcançou o sonho de entrar no Top 100 do ranking, que pela primeira vez em oito anos teve a presença de três brasileiros. Nas duplas, Marcelo Melo e Bruno Soares chegaram às oitavas no US Open e às quartas em Roland Garros.

Torneios no Brasil
O Brasil é um dos países que mais realiza torneios profissionais no mundo. Em 2010 foram 33 Futures (espécie de sexta divisão dos torneios, muito importante para atletas de nível mais baixo) no masculino e 19 no feminino. Challengers (quinta divisão) foram oito no masculino (cinco vencidos por brasileiros) e seis no feminino. Além destes, o Brasil recebeu o ATP 250 (quarta divisão) da Costa do Sauípe (foto), vencido pelo espanhol Juan Carlos Ferrero. O melhor brasileiro na única etapa nacional da ATP World Tour (circuito que reúne os principais torneios do mundo) foi Ricardo Mello, que perdeu nas semifinais.

O que esperar de 2011
A temporada 2011 promete para Thomaz Bellucci, que fechou contrato com Larri Passos. O primeiro teste de fogo será em Melbourne, mas a temporada de saibro (entre abril e junho) deve trazer novos bons resultados. Falando em Melbourne, aliás, o Brasil já tem a garantia de três representantes na chave principal de simples do torneio. Ricardo Mello, Marcos Daniel e Thomaz Bellucci ainda podem se juntar a outros compatriotas, como João Souza e Tiago Fernandes, que tentarão o qualifying. André Sá e Franco Ferreiro oficializaram, no fim de 2010, a formação de uma dupla fixa, que também entrará no circuito no Aberto da Austrália, junto com Melo e Soares.

Pelo mundo
O circuito da ATP foi, mais uma vez, protagonizado por Rafael Nadal e Roger Federer. Os dois conquistaram os quatro Grands Slam (três vitórias para Nadal e uma para Federer) e quatro dos nove Masters 1000 (também três para o espanhol e um para o suíço). Nadal conseguiu duas façanhas no mesmo ano: ficou com o "Slam do saibro" (os títulos dos quatro torneios mais importantes deste piso, Roma, Monte Carlo, Madri e Roland Garros) e o "Slam Carreer" (títulos nos quatro Grand Slams, mas não no mesmo ano). O sérvio Novak Djokovic também teve bons resultados ao longo do ano, mas fica difícil se destacar quando se é contemporâneo de dois gênios. O britânico Andy Murray teve mais sorte. Se contra Nadal foram quatro jogos, mas nenhuma final, contra Federer foram três finais em quatro jogos. No Aberto da Austrália, vitória de Federer. Nos Masters 1000 do Canadá e de Shanghai, vitórias de Murray. No ATP Finals, nova vitória de Federer na fase de grupos.

O ano do circuito masculino também teve outros destaques, como o primeiro título de Masters 1000 de Robin Soderling (Paris), os péssimos retornos de Juan Martin Del Potro e Nikolay Davydenko após sérias lesões no início da temporada e o estabelecimento do novo recorde de partida mais longa da história. John Isner, dos Estados Unidos, e Nicolas Mahut, da França, duelaram na primeira rodada de Wimbledon por incríveis onze horas e cinco minutos, numa partida que começou na terça-feira e foi interrompida duas vezes por causa da ausência de luz natural, terminando apenas na quinta. Todos os números do confronto são grandes demais: 183 games (138 só no quinto set), 216 aces, 168 serviços confirmados consecutivamente, enfim.

Outros grandes jogos (não só pela duração) de 2010 foram Djokovic x Federer na semifinal do US Open e Nadal x Murray na semifinal do ATP Finals. Surpresas, tivemos várias, como as derrotas de Federer em Wimbledon e Roland Garros para Berdych e Soderling, respectivamente (ambos perderiam a final para Nadal) e a vitória de Guillermo Garcia López sobre Nadal no ATP 250 de Kuala Lumpur. Para a ATP, entretanto, a maior zebra da temporada foi a vitória do taiwanês Yen-Hsun Lu sobre Andy Roddick em Wimbledon. Roddick defendia os pontos da final do ano anterior.

O circuito feminino, marcado pela instabilidade, viu a dinamarquesa Caroline Wozniacki chegar à liderança do ranking da WTA ("mas sem ganhar nenhum Grand Slam", lembrarão alguns), Serena Williams cortar o pé com um pedaço de vidro em uma festa (poucas explicações e muita especulação rondam esse caso até hoje) e Kim Clijsters (foto) voltar à cena em grande estilo, conquistando os títulos do US Open e do WTA Championships (equivalente ao ATP Finals) e sendo eleita a melhor tenista do ano pela própria WTA.

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