sexta-feira, 14 de maio de 2010

Triatlo

Quando o triatlo foi anunciado esporte olímpico para os Jogos de 2000, o Brasil era uma das potências no esporte. Tínhamos um campeão mundial, Leandro Macedo, e fomos um dos únicos seis países a levarem equipe completa para Sydney 2000. Lá, tivemos o excelente resultado de Sandra Soldan, 11ª, melhor resultado latino-americano até hoje. Chegávamos a ter três atletas entre as top 15 no ranking mundial feminino.
Em 2004, levamos novamente seis atletas, mas claramente o nível brasileiro com relação ao restante do mundo tinha caído. O último ciclo olímpico foi bem pobre em termos de resultados, o que culminou com apenas três classificados para Pequim, Reinando e Juraci no masculino e Mariana no feminino. Juraci, por sinal, ficou com a última vaga pelo ranking mundial.
Em 2009 ainda tivemos a suspensão por doping de Mariana Ohata, o que deixou o triatlo nacional feminino com apenas uma atleta de ponta, Carla Moreno. Claro que temos nomes como o de Giovanna e Flavia, mas que não conseguem resultados importantes em nível internacional.

O site http://www.mundotri.com.br/ fez uma interessante série de entrevistas com quatro grandes especialistas no esporte perguntando qual é o grande problema do triatlo nacional, as perspectivas para o futuro, Rio 2016, promessas, a falta de atletas(O último brasileiro olímpico contou com apenas 105 inscritos).


Vamos aos principais trechos, na minha opinião, claro:
Lauter Nogueira "Só a Carla Moreno é profissional no feminino"
"Acho que vamos preencher as três vagas masculinas para 2012"
"Enquanto temos apenas 105 atletas no brasileiro de triatlo olímpico, no Ironman de Florianópolis, ha milhares de pessoas se esfaqueando para conseguir uma vaga entre as 1.200 disponíveis. "

Decadência do Brasil: Essa tendência já tinha sido identificada desde 2003, quando ficou claro que o trabalho de longo prazo do triathlon nacional estaria comprometido. Costumo dizer uma frase famosa sobre os dirigentes esportivos: eles são como fraldas de bebê. devem ser trocados regularmente e, normalmente, pelo mesmo motivo. A partir do momento que um dirigente perdura no cargo, as coisas começam a ser rifadas. No caso da CBTri, a primeira a ser rifada foi coordenação técnica. Assim, todo o trabalho de identificar e desenvolver atletas fica comprometido.

Feminino:Eu havia dito que a elite feminina brasileira cabia em um fusca. Na verdade, ela cabe em uma moto. Hoje só temos a Carla Moreno com condições de disputar competições internacionais de alto nível inter. No fast triathlon houve até uma brincadeira divertida sobre a dança do fusca, mas a verdade é que a Carla Moreno é a única profissional no Brasil.

A Flávia Fernandes tem apresentado uma evolução muito boa…
"Sim, ela tem evoluído, mas enquanto estiver treinando Pólo Aquático vai continuar sendo amadora no triathlon. Quando eu disse que havia uma amadora no fast triathlon, que gerou toda aquela repercussão, estava me referindo a isso. A única atleta que se dedica profissionalmente ao triathlon hoje no Brasil é a Carla Moreno. A única que tem condições próximas é a Vanessa Gianinni, mas ainda não conseguiu atingir o nível da Carla"

No masculino temos uma safra um pouco melhor. Seja por acaso, seja por persistência dos atletas, temos alguns talentos em condições de estar na elite do triathlon mundial. O Reinaldo Colucci, apesar do ironman Brasil este ano, tem feito provas muito boas; o Diogo Sclebin, que está desenvolvendo um ótimo trabalho, pois é um dos poucos atletas que se dedica somente ao triathlon olímpico. O trabalho que estamos desenvolvendo com o Diogo não é somente para ir a Londres em 2012, mas para ser top 10 em 2012. Nas provas olímpicas hoje, a diferença entre o primeiro colocado e o décimo é uma mera questão de detalhes, como vimos nas Olimpíadas de 2008, onde uma atleta que não era favorito levou a medalha de ouro para casa. Temos também uma boa geração de garotos de 20 a 24 anos que está correndo muito bem. Há ainda os grandes atletas consagrados que mesmo na descendente em suas carreiras, ainda podem brigar por uma vaga olímpica.

A Carla Moreno vai conseguir pontuar para ir a mais uma Olimpíadas. Não sei se teremos mais atletas no feminino. No masculino, com o talento que tem, o Reinaldo Colucci vai ficar com uma vaga. A segunda deve ficar com o Diogo Sclebin. Resta aí mais uma vaga para um grupo grande de atletas, vários com chance de largar em Londres. Acredito que, no masculino, vamos ocupar as três vagas.

Porque os Ironman estão cheios e o brasileiro olímpico vazio: Isso acontece por uma questão de credibilidade. A maioria dos atletas não vai postar sua carreira em algo que pode durar muito pouco e , atualmente, está sujeito às vontades de algumas pessoas. Um exemplo disso é que no Campeonato Brasileiro de Triathlon tivemos 105 atletas inscritos. Não 105 da elite, mas 105 no total, incluindo os amadores! Enquanto isso, no Ironman de Florianópolis, ha milhares de pessoas se esfaqueando para conseguir uma vaga entre as 1.200 disponíveis. O Reinaldo Colucci está certo em olhar para sua carreira, mas ele tem talento para ser medalhista olímpico e em campeonatos mundiais se dedicasse exclusivamente às provas olímpicas. Faltam os incentivos para isso.
Marco La Porta, diretor técnico da CBTRI
Por que caiu tanto desde 2004? Os atletas não podem se iludir com resultados continentais e achar que está tudo bem. Para ser forte, precisa estar ao lado dos fortes, competir e treinar com eles. Falta isso, acostumar desde cedo o atleta a competir e treinar forte. De 2000 a 2004, esquecemos da base, trabalhamos mal. Por isso nos falta, hoje, a renovação. Tínhamos uma geração maravilhosa com Carla, Sandra, Leandro, Mariana, Juraci, Shiro, Virgilio, etc, que estavam sempre entre os primeiros na ITU. Cuidamos deles e esquecemos da base. Estamos pagando o preço por isso.

Londres 2012: Não vou citar nomes, mas eu lhe garanto que em Londres teremos quatro atletas, dois homens e duas mulheres, no mínimo, representando o Brasil, sendo que pelo menos um com chances de um bom resultado.

Rio 2016: Já está atrasada. Deveria ter começado há dois anos atrás. A idade média de um campeão olímpico é de 29 anos. Assim, entendemos que o medalhista de ouro em 2016, deve ter hoje entre 18 e 26 anos, considerando-se um desvio padrão de 4 anos. É claro que fenômenos como Alistar, Javier, Vanessa, fogem um pouco desta regra, mas não se pode trabalhar com exceção.

Porque Ironman tem mais inscritos: Já está atrasada. Deveria ter começado há dois anos atrás. A idade média de um campeão olímpico é de 29 anos. Assim, entendemos que o medalhista de ouro em 2016, deve ter hoje entre 18 e 26 anos, considerando-se um desvio padrão de 4 anos. É claro que fenômenos como Alistar, Javier, Vanessa, fogem um pouco desta regra, mas não se pode trabalhar com exceção.
Rosana, treinadora
Porque o esporte decaiu tanto? Tem atleta profissional que não sabe andar em circuito técnico de ciclismo, não consegue ficar num pelotão, não sabe traspor ondas e isso é inadmissível em uma disputa olímpica, é falta de escola. Com isso não estou criticando os trabalhos realizados, mas o atleta muitas vezes chega às nossas mãos com mais de 20 anos, com potencial, mas se fosse descoberto antes ele teria mais chance.

Sou a favor da distribuição de verbas para o atleta escolher onde e com quem quer treinar, tendo uma comissão para avaliar seu rendimento. Não sou contra Centros de treinamentos, mas eles devem ser em grande número para não tirarmos os atletas, muitas vezes sem maturidade ou estrutura, de perto de suas famílias. Esses pólos de treinamentos devem estar nas mãos de profissionais que já atuam na área e conhecem os atletas da sua região. Que tal, pelo menos, um Centro de treinamento obrigatório para cada Federação? Paralelo a isso uma programação de training camp, internacionais para técnicos e atletas.
Londres 2012: Vários atletas estão em condições de brigar por vaga olímpica. No masculino: Reinaldo Collucci, Juraci Moreira, Diogo Sclebim, Bruno Matheus e Fábio Carvalho. No feminino: Carla Moreno e Pamela Oliveira e destaque também a Vanessa Gianinni e Flávia Fernandes que estão trabalhando para melhorar e devem surpreender. Como acompanho os atletas da Seleção em quase todas as provas nacionais e internacionais, tenho uma visão mais otimista.
Ironman: Sabemos que os atletas ganham muito mais fazendo provas promocionais e migrando para outras distâncias, pois para concorrer a uma vaga olímpica ele mais gasta do que ganha.
Para o triathlon nacional crescer, deveria haver um investimento em todas as áreas. As distâncias são igualmente importantes no nível de melhorarmos no cenário mundial. Quando o trabalho é bem feito podemos ver atletas de destaque em todas as distâncias.

Sandra Soldan, triatleta olímpica em 2000 e 2004
Porque o triatlo caiu tanto: Sim, nada vem à toa. Muito menos em um esporte de longo prazo e que requer uma estrutura grande e custosa. Ao meu ver, foram vários fatores juntos que resultaram neste retrocesso do triathlon nacional. E de todos os lados, desde a falta de visão no futuro por parte da CBTri, sem selecionar os melhores e mais competentes profissionais de cada área para lhe assessorar, com experiência comprovada por mérito, o que é essencial para o esporte de alto rendimento, montando uma equipe multi- disciplinar, que irá trabalhar conectada com os grandes centros internacionais do esporte de alto rendimento. O intercambio internacional é vital, em todos os níveis.
Outro ponto importante seria o de ter aproveitado melhor a experiência de tantos anos dos atletas olímpicos para passá-la aos atletas emergentes. Esta troca é muito importante, pois, apesar de ser um esporte individual, se trabalha em equipe. Isto já foi demonstrado e comprovado ser eficaz, em todos os Jogos – Pan-Americanos e Olímpicos – e por todos os países que o fazem. Não só nas provas, mas nos treinamentos também, pois é durante este período que os atletas se conhecem, aprendem a se entrosar, e durante as competições repetirão aquilo que aprenderam durante o treinamento. A questão de quem vai vencer ficará para quem estiver melhor naquele dia, desde que todos tivessem trabalhado corretamente, e seguido as estratégias impostas pelo técnico. Por isso a importância de se ter um profissional competente, com visão e experiência no assunto. Mas tudo isso só pode se tornar possível se houver planejamento de treinamento do grupo todo, em locais apropriados para isso, e que eleve o nível técnico dos atletas, a serem testados nas competições internacionais.

2012: É um cenário baseado unicamente em novos talentos. Houve um vácuo entre a geração mais velha, da qual fiz parte, e a mais jovem. Esta reciclagem não precisava e não deveria ter sido assim. Houve descaso e não se valorizou o resultado de nossa geração para o triathlon nacional. Isto não acontece em esportes com mais estrutura, como a natação, o vôlei, a ginástica olímpica; as respectivas confederações aproveitam os atletas mais experientes e que tiveram grandes resultados para trabalhar juntos em busca de melhores resultados, pois existe uma mentalidade diferente; a de melhorar cada vez mais e, para isso, é importante que se junte todas as forças disponíveis formando um grupo mais forte, passando por cima de diferenças e disputas de brios, característico do ser humano.
Não aposto em ninguém, pois é um resultado impossível de se antecipar, já que todos os atletas do mundo estão se preparando mais do que nunca, para o maior evento esportivo do planeta. Para 2012 deve-se ter em mente que será muito mais difícil se não houver mudanças drásticas no planejamento de curto prazo.

PARABÉNS AO SITE http://www.mundotri.com.br/ pela série de reportagens. O triatlo é um esporte belíssimo que vem perdendo muito espaço na mídia. Uma pena
Mas há esperança

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2 comentários:

  1. Matéria brilhante. PArabéns. Deu para compreender perfeitamente a realidade de mais um sofrido esporte em nosso país. Enquanto o presidente Lula está querendo dar grana para ídolos do futebol ( nada contra), os outros esportes continuam esquecidos

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  2. o site www.mundotri.com.br é realmente o único site que incentiva o triathon no país, merece uma força, opis faz um trabalho incrivel de um esporte sem mídia!

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