Muitas, mas muitas modalidades mesmo estão "apelando" para a contratação de técnicos estrangeiros. Dos esportes menos tradicionais, como Luta greco-romana e esgrima, passando por esportes já medalhados como boxe chegando até o basquete, um dos esportes mais populares do país.
Muitas vezes essas contratações são muito benéficas. O principal exemplo disso é o de Oleg, da ginástica, que ajudou e muito ao esporte ser o que é hoje, um dos melhores do mundo.
No atletismo, os técnicos cubanos que chegaram ano passado para treinar nossos atletas de lançamentos e arremessos, em Uberlândia, vem fazendo um bom trabalho, não há dúvidas.
Porém, vale a pena dar uma olhada na carta enviada a CBAt pela técnica Fátima Germano. Fátima é uma treinadora que acha talentos entre os mais novos. Já deu entrevistas para a ESPN Brasil falando da precariedade da base no Brasil, no documentário produzido pela emissora ano passado.
Já conversei com Fátima. Ela é sincera e direta. Ela era a treinadora de Livia Avancini, quinta colocada no mundial sub-17, que desistiu do esporte.
Vamos a carta
Diante dos últimos acontecimentos que me atingiram, gostaria de registrar minha tristeza e frustração diante da atitude tomada pelos técnicos cubanos hospedados no CTNA de Uberlândia, que vêm desenvolvendo grandes esforços a fim de convencer atletas a se transferirem para aquela cidade e treinarem sob o seu comando, e o que é mais triste com o aval da CBAT. Afirmo isto porque meus dois principais atletas, Willian Braido e Geisa Rafaela Arcanjo, após participarem do camping no mês de fevereiro receberam insistentes convites para se transferirem, e mesmo após terem recusado, continuaram a receber propostas, até finalmente cederem e aceitarem treinar com os referidos técnicos.
Percebo neste momento porque técnicos de clubes de renome não permitiram que seus melhores atletas participassem daquele camping. É decepcionante após tantos anos de trabalho duro revelando atletas, vê-los serem seduzidos inescrupulosamente e de maneira anti-ética sob o olhar da CBAT. Muitos de nós, professores e técnicos de atletismo, dedicam seis a sete anos de suas vidas sob sol e chuva para descobrir e desenvolver o potencial desses jovens, e ao final vêm seu trabalho ser desdenhado exatamente no momento em que os frutos seriam colhidos. Simplesmente porque outros concluem que não temos mais capacidade de treiná-los.
A competência em trabalhar com alto nível só é reconhecida a alguns poucos, e, principalmente, em lançamentos e arremessos neste momento apenas aos técnicos estrangeiros. A nós, técnicos brasileiros, resta conformar-se em desenvolver o árduo trabalho de base.Quando o prof. Martinho, em sua carta de 27/10/2010, diz que projetos e apoios existentes no Brasil são falhos, julgo que não deveríamos generalizar.
Pela minha experiência pessoal, o trabalho com a base desenvolvido no Centro de Excelência do Estado de São Paulo (antigo Projeto Futuro) com o apoio da Federação Paulista de Atletismo tem alcançado ótimos resultados. Muitos de meus companheiros de trabalho já tiveram destaque em competições internacionais, dentre eles posso citar Thiago Caraíba, campeão do mundo de menores Jadel Grégorio, prata no campeonato mundial, Mateus Inocêncio, quinto nas Olimpíadas Lívia Avancini, quinto lugar no campeonato de menores de 2009 e Maurrem Higa Maggi, medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim.
Como se pode notar, quando foi permitida a continuidade do trabalho com o atleta, nossos técnicos alcançaram resultados positivos. De minha parte, julgo que resta apenas continuar a encontrar novos talentos, até que sejam também levados para o CTNA, ou qualquer outro lugar onde estejam os técnicos "competentes" para polir os diamantes que durante anos tenho o trabalho de lapidar. Parece que já estou dando a contribuição que me foi reservada e limitada para os Jogos Olímpicos de 2016 ao me levarem estes 2 atletas.
O que foi dito no forum que os atletas participariam dos camping e voltariam para seu treinadores e continuariam os treinamentos. Estive nos três camping quando fui convocada o resultado e claro foi possitivo na época, porque agora e negativo participar e ficar sem atleta.Este final de semana está acontecendo a seletiva Estudantil em Uberlândia tenho um atleta na prova do lançamento do dardo e espero que não seja assediado pelos Cubanos.
Para finalizar, eis em resumo alguns dos nomes que meu trabalho desenvolveu neste anos.- Geisa Rafaela Arcanjo treina comigo desde os 14 anos. Participou de um campeonato do mundo em 2007, na República Tcheca, em seu primeiro ano como menor. Foi sua primeira competição internacional. Nesse mesmo ano, ela bateu o recorde menor no lançamento do disco que durava por 20 anos! Foi campeã sul-americana por duas vezes, recorde em brasileiros menores, terceiro lugar nos Jogos Pan-americanos Juvenil em Trinidad e Tobago. E vem melhorando muito sua marca pessoal no arremesso do peso.- Willian Braido iniciou com o prof. Darci da cidade de Campinas e veio treinar comigo em 2009. Sagrou-se campeão nos Jogos da Juventude com dois recordes do torneio: 18,28m no arremesso do peso, e 52,74m no lançamento do disco.
Nesse mesmo ano, pela primeira vez um atleta de lançamento do disco e arremesso do peso foi escolhido e premiado como melhor atleta estudantil.- Lívia Avancini iniciou com o prof. Eugênio do estado do Paraná. Esteve no Centro de Treinamento de fevereiro a julho do ano passado. Participou do Mundial Menor em Bressanone, Itália, e ficou em quinto lugar com a marca de14,24m. Terminou o ano com a 8ª marca do mundo na sua categoria: 14,47m. Quando começou a treinar comigo em fevereiro sua marca era12,90m!- Ronald Odair Julião aos 14 anos iniciou a treinar comigo na escolinha do Projeto Futuro. Hoje é o atual recordista brasileiro do disco e detentor de vários recordes nas categorias de menores e juvenis.Acrescento que em todas as seleções brasileiras há um ou dois atletas meus, em todas as categorias de Menores, Juvenis e Sub 23 e até mesmo adulto.Sou apenas mais uma técnica que não tem espaço para mostrar seu trabalho na categoria adulto porque vivemos num mundo de competição desleal. Até agora perdia os atletas para os clubes grandes que os contratavam com algum chamariz financeiro. A partir deste momento, com o apoio da Confederação Brasileira de Atletismo, o que a meu ver piora o quadro, perco-os também para os técnicos estrangeiros que deveriam vir ao Brasil para nos possibilitar adquirir mais conhecimento, mas ao contrário retiram-nos a oportunidade de crescer.
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Acho que deveriam ser implantados Centros de Excelência como os do IAE ( Instituto Australiano do Esporte ) para que atletas com resultados internacionais expressivos nas categorias de base fossem encaminhados.
ResponderExcluirDo contrário corre-se o risco de acontecer o que aconteceu c/ a atleta Bárbara Leôncio após ser campeã mundial de menores na República Tcheca em 2007.
BR