O título foi dado pelo International Swimming Hall of Fame na cerimônia oficial em maio de 2000. O revezamento feminino americano que venceu a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montreal é uma das imagens mais emocionantes já captadas dentro da natação olímpica até hoje.
Tudo isso por conta da expressiva vitória alcançada contra a fortíssima e até então imbatível seleção da Alemanha Oriental. Nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976 os americanos conseguiram a sua melhor seleção masculina de todos os tempos. No total das 13 provas individuais e revezamentos disputadas, os americanos levaram 12 ouros! Das 11 possíveis pratas, os americanos ainda levaram 10!
Entretanto, no naipe feminino, até a última prova, 4 x 100 livre, os alemães já tinham ganho 11 medalhas de ouro e um desempenho incrível. Anos depois com o descobrimento do doping, todos estes resultados foram contestados e até hoje a USA Swimming e parte da comunidade aquática luta pelas medalhas das americanas que exigem a desclassificação e re-distribuição das medalhas olímpicas.
A história contada pelo treinador Jack Nelson e assistindo o vídeo da prova é de arrepiar, não tem um que não fique. O entusiasmo e o realismo que é passado é incrível.
As alemãs orientais no início da década de 70 eram consideradas a mais forte equipe da natação mundial. Até então, ninguém conseguia explicar o porquê dos resultados tão expressivos e até mesmo do "tamanho" das nadadoras alemãs, todas imensas e bastante musculosas.
Antes dos Jogos Olímpicos de Montreal, o time americano treinado por Jack Nelson já sabia que as alemãs seriam as campeãs e que o trabalho iria ser bastante duro. Ainda para piorar a situação do time feminino americano, na comparação o time masculino dos Estados Unidos foi o melhor até hoje formado.
As alemãs venceram 10 medalhas de ouro e Kornelia Ender era o grande nome da competição, não só pelo seu "tamanho" mas pelas 4 medalhas de ouro conquistadas até a última prova.
As americanas tiveram um desempenho bastante razoável com 9 novos recordes americanos batidos na competição e 4 mundiais, sendo que destes 4 batidos as alemãs chegaram na frente, ou seja, todo o brilhantismo americano estava suplantado a segundo plano graças ao massacre alemão.
As americanas tiveram um desempenho bastante razoável com 9 novos recordes americanos batidos na competição e 4 mundiais, sendo que destes 4 batidos as alemãs chegaram na frente, ou seja, todo o brilhantismo americano estava suplantado a segundo plano graças ao massacre alemão.
A última prova da competição: 4 x 100 livre feminino. Todo mundo já sabe que as alemãs irão vencer de novo mas ninguém sabia o que se passava na seleção americana feminina que estava disposta a mudar a história daquela competição.
Durante semanas, o Coach Jack Nelson ensaiou o revezamento 4 x 100 livre com suas atletas. Deu a cada uma delas uma específica função e treinou cada uma delas para aquela função. Não fazia sentido acreditar que as americanas teriam chance na disputa, mas na cabeça de Jack Nelson e suas atletas isso era possível.
O time americano tinha na ordem:
Kim Peyton, a mais velocista do grupo que já havia batido o recorde americano dos 100 livre na competição sem chegar ao pódium.
Kim Peyton, a mais velocista do grupo que já havia batido o recorde americano dos 100 livre na competição sem chegar ao pódium.
Wendy Boglioli, especialista na prova de borboleta havia sido medalha de bronze na prova e antes de começar a competição logo no primeiro dia chegou correndo a borda da piscina chorando e reclamando que havia um homem no vestiário feminino! Este homem era Kornelia Ender!!!
Jill Sterkel, 14 anos na época, a mais jovem do time e que depois se configuraria na atleta com maior número de Olimpíadas na história da natação americana.
Jill Sterkel, 14 anos na época, a mais jovem do time e que depois se configuraria na atleta com maior número de Olimpíadas na história da natação americana.
Shirley Babashoff, especialista nas provas de fundo 3 medalhas de prata, 3 recordes americanos na competição, aliás 3 recordes mundiais mas todos atrás das alemãs ou seja, sem contar nada nos 200, 400 e 800 livre.
Shirley Babashoff
Shirley Babashoff
Com este time, Jack Nelson passou a orientação ao grupo da seguinte maneira:
1) Vamos abrir com Kim Peyton, que é nossa maior velocista e vai enfrentar Kornelia Ender, pois os alemães irão tentar quebrar o recorde mundial dos 100 livre mais uma vez. A missão de Kim será entregar a prova um corpo atrás para a segunda nadadora.
2) Wendy Boglioli será a segunda nadadora e vai ter a missão de entregar o revezamento em igualdade para a terceira nadadora.
3) Jill Sterkel será a terceira nadadora e terá a missão de entregar na frente para a última nadadora.
4) Shirley Babashoff a mais experiente do grupo será a quarta nadadora e terá a missão de segurar a vantagem até o final.
1) Vamos abrir com Kim Peyton, que é nossa maior velocista e vai enfrentar Kornelia Ender, pois os alemães irão tentar quebrar o recorde mundial dos 100 livre mais uma vez. A missão de Kim será entregar a prova um corpo atrás para a segunda nadadora.
2) Wendy Boglioli será a segunda nadadora e vai ter a missão de entregar o revezamento em igualdade para a terceira nadadora.
3) Jill Sterkel será a terceira nadadora e terá a missão de entregar na frente para a última nadadora.
4) Shirley Babashoff a mais experiente do grupo será a quarta nadadora e terá a missão de segurar a vantagem até o final.
Esta estratégia foi inúmeras vezes repetida, treinada e preparada para o grupo até o dia da prova. O espírito do grupo era bastante abatido mas ainda restava esta última esperança. Nas eliminatórias, o time americano se classificou em 3o, com as alemãs em 1o e o Canadá em 2o. O treinador do Canadá muito contente foi até comemorar com Jack Nelson em tom de provocação: "Vamos ser prata hoje à noite", Jack Nelson nada respondeu apenas riu mas no pensamento: "que bom, Canadá vai ser prata, então Alemanha vai ser bronze, pois nós vamos ganhar a prova!".
Hora da prova. Primeira saída falsa e os nadadores levam mais alguns minutos para se prepararem novamente. Finalmente é largada a prova e como esperado Kornelia Ender bate o recorde mundial pela 3a vez na competição, mas Kim Peyton também bate o recorde americano também pela 3a vez e entrega cerca de meio corpo atrás.
Wendy Boglioli que tinha a função de entregar junto não conseguiu cumprir sua missão por completo, foi cerca de alguns décimos atrás, mas a jovem Jill Sterkel sai feito doida e toma a frente da prova entregando com boa vantagem para Shirley Babashoff.
O estádio de Montreal todo desabava e incentivava as americanas que tinham uma boa vantagem, diminuída no final, mas que garantiu a medalha de ouro para as americanas 3:44:82 novo recorde mundial e 68 centésimos a frente das temidas alemãs.
O mundo todo assistia incrédulo ao resultado, totalmente inesperado, irreal e imaginável. Mas dentro da cabeça das nadadoras que alcançaram a façanha e seu treinador aquilo havia sido trabalhado. Em nenhum momento, tanto na preparação como no treinamento a palavra tempo foi utilizada como parâmetro. As nadadoras foram incumbidas de missões a serem cumpridas jamais marcas a serem estabelecidas e o resultado foi o melhor possível: vitória com recorde mundial.
Resta dizer ainda que demoraram 17 anos para os resultados das nadadoras alemãs ser desmascarado e contestado no mundo do esporte. Vítimas de programas de controle de dopagem oficial, hoje as ex-nadadoras enfrentam problemas de saúde como câncer e anomalias em seus filhos. O governo alemão responsável pelo programa paga fortunas de indenização às famílias das atletas dopadas durante anos no projeto.
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