quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Especial- Erros e acertos

Carlos Arthur Nuzman é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro desde 1995 e já tem sua permanência garantida até 2012, quando completará 17 anos no poder. Tempo quase igual ao que ficou na presidência da Confederação Brasileira de Volei, no qual presidiu por 21 anos.
O ex-atleta e atual cartola tem seus pontos ruins, que estão sendo exautados pela imprensa, mas também tem seus pontos favoráveis. Vamos um pouco da história...

Começou sendo atleta. Depois de ser campeão regional e nacional pelo Clube Israelita Brasileiro (CIB), Nuzman integrou a delegação brasileira que foi aos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, a primeira que teve o vôlei entre suas modalidades. “Eu era cortador, por mais incrível que isso possa parecer. Tenho 1,85m e isso é ser muito baixo para os padrões atuais. Ficamos em sétimo entre as 10 equipes participantes”, lembra ele.

Assumiu a presidencia da CBV nos anos 1970 e pegou o esporte bem abaixo do basquete no Brasil, sempre em terceiro plano. Com uma união com a TV Bandeirantes, algo que poucos acreditavam que daria certo, conseguiu montar uma divulgação enorme do vôlei no país, que culminou com torneios internacionais quase que anuais no Brasil, um jogo no estádio do Maracanã com 100.ooo pessoas e a famosa geração de prata masculina.

Assumiu o COB em 1995 depois de cinco anos ser vice de Gustavo Rischer. Ex- atleta e um dirigente vitorioso. O perfil que uma entidade do tamanho do ComitÊ Olímpico Brasileiro merece. Na teoria. Os anos foram se passando e Nuzman, apesar de coisas muito boas para o esporte, foi se enrolando com sua politicagem e agora está na capa dos jornais como um vilão. O que também é injusto.

É certo que dirigente não ganha medalha. Mas logo no seu primeiro ano, a delegação brasileira levou 15 medalhas, cinco vezes mais que as conquistadas quatro anos antes, em Barcelona. O que fez em 1996, festival olímpico, com a participação de dois mil atletas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, de 24 países, ajudou a mídia dar atenção ao esporte. E deu certo.

Porém, naquela época já tentava trazer a olimpíada para o Rio, em 2008, o que apesar das festividades ficou um sonho distante. Era o começo da gastança para ser sede. Eu acredito que é importante o Brasil sediar uma olimpíada, mas acho errada gastar tanto a toa.
O ciclo olímpico de 1996 a 2000 foi vitorioso para o Brasil, que chegou a Sydney com a expectativa de superar Atlanta. Mas não conseguiu e saiu sem ouro. 6pratas e 6 bronzes. Mas o COB deu suporte para uma participação excelente, no mínimo, poderíamos ter levado outras seis medalhas, o que provara que o nível do esporte olímpico cresceu.

A partir desta olimpíada, o foco real da entidade, e de Nuzman, passou a ser o número de finais, e não de medalhas. O que eu acho certíssimo. O que importa, para saber o nível de desenvolvimento do esporte no país, é o número de chances reais de medalha que o país tem na olimpíada e não as medalhas conquistadas. Uma fatalidade, um erro de juiz, um detalhe não pode mudar a opinião pública sobre o atual momento do esporte no país. Claro que queremos medalhas. Mas finais são importantes e, em 2000, foram 26.

O ciclo de 2000 a 2004 foi vitorioso para o COB. A lei Agnelo Piva passou a render milhões e milhões ao esporte nacional, com 2% das loterias indo para a entidade. O Brasil se arrumou às pressas para sediar os Jogos Sul-americanos de 2002, que teve a desistência de Bogotá a poucos meses do início. Nuzman aceitou a proposta e o evento foi um sucesso. No mês anterior aos Jogos, mais precisamente no dia 24 de agosto de 2002, o Brasil ganhou o direito de ser sede dos Jogos Pan-americanos de 2007.

Vamos por partes. A Lei Piva é fruto do esforço do Cob em provar que vale a pena ter o dinheiro investido no esporte. Mérito para Nuzman. Porém, as divisões do dinheiro são feitas erroneamente. Primeiro, por que o Comitê tem que ficar com 40% de toda o dinheiro? Essa é uma dúvida que ele tem que provar. Ainda não me convenceu.

Depois, essa história de meritocracia só aumenta a desigualdade das modalidades no Brasil. Claro que, quando chega na elite mundial, o volei, o judô, a natação tem que ter renda para se manter. Mas esses esportes tem forças para se manter, ao contrário do levantamento de peso, luta olímpica etc... Por isso, seria a favor de uma maior igualdade nas verbas. Não acho que esportes menores deveriam ganhar mais que os vitoriosos. Mas não deviam ganhar tão menos.
Os Jogos sul-americanos foram um sucesso. Uma competição relativamente pequena com relação ao Pan e a olimpíada, foi disputado em quatro cidades, Rio, São Paulo, Belém e Curitiba e conseguiu suprir as necessidades da Organização Desportiva Sul-americana.

Em 2003, o COB criou um dossiê para que Rio de Janeiro e São Paulo cumprissem para poderem brigar pela sede de 2008. Vitória carioca. Mas um avanço, pois foi a primeira candidatura com planejamento. Mais uma vez, em vão.
O Pan de 2003 colocou o Brasil frente a frente com o Canadá na briga pela terceira posição. Quem diria que o país, sexto colocado no Pan de 1995, seria quase o terceiro duas edições depois. Méritos para os Nuzman? Até que sim. Conseguiu trazer o dinheiro que o esporte merece. """""""""Só"""""""" falta saber usar. E é aí que ele se enrola cada vez mais.

Em 2004, na primeira olimpíada com o recurso da Lei Piva apenas dez medalhas. Na minha opinião, apesar de cinco ouros, uma participação abaixo do que esperado. Prefiro 15 medalhas e três de ouro.
Os preparativos para os Jogos Pan-americanos foram uma vergonha. Robalheira(que precisa ser provada e investigada por todos), atrasos, promessas não cumpridas...Muitos, muitos problemas. No fim, o evento foi um sucesso, temos todos que concordar. Muito melhor do que todos esperavam. Eu estive lá o mês inteiro de julho e sei do sucesso. Sei dos problemas, mas sei do sucesso.
Alguns dizem que seria melhor que fosse um fracasso. As investigações em cima dos preparativos seriam maiores. As críticas ao Nuzman, ao governo, ao Estado, seriam enormes. Mas tudo deu mais certo do que as pessoas imaginavam e essa robalheira do Pan segue sem culpados.

2008 um ano temeroso na vida de Nuzman. Com certeza ele criou muitos desafetos. Mais uma vez falo que o jeito que ele demontra a participação brasileira em Pequim é certo. O número de finais é muito mais relevante para o desenvolvimento do esporte que o número de medalhas. O problema é que a imprensa quer pódios, quer Brasil em primeiro e não em em quinto. Para ela e, consequentemente para o público em geral, o quinto, o sexto e o sétimo lugares não importam.

Mas a eleição de Nuzman há pouco mais de um mês foi algo deprimente. Feita as escuras, sem divulgação, ele garantiu mais cinco anos de poder. Ainda me vem falar que divulgou num jornal de grande circulação do Rio? Quanta mentira. Se enrolou, pegou o desgosto geral da imprensa de uma vez por todas. E isso, no Brasil, é provado que dificilmente dá certo. O problema é que a Globo, aparentemente, continua ao seu lado.

Ontem, ele foi numa adiência no senado e fugiu depois do seu discurso alegando compromisso. A nota do Correio Brasiliense explica tudo. Clique Aqui.

Nuzman conseguiu captar recursos para o esporte brasileiro. Tivemos a lei do incentivo fiscal que, recentemente, foi finalmente aprovada. Teremos mais investimento no esporte, tirando do imposto das empresas 1% do Imposto de Renda, se este for investido no esporte. Tivemos o bolsa atleta, programa muito bom que ajuda atualmente mais de 3.000 atletas que não tem patrocício. Para detalhes do programa, clique Aqui.

Entretanto se enrolou com tamanha politicagem que tem feito. A eleição às escondidas foi o ápice. Ele conseguiu o dinheiro, mas investe mal. O mais difícil, que era trazer o dinheiro, ele conseguiu. O mais fácil, que é usá-lo, ele tem dificuldades.

Na minha modesta opinião, Nuzman é o "Rouba mas faz". Mas é so uma opinião, sem nada provado.

4 comentários:

  1. Tudo bom, Guilherme? Parabéns pelo blog. Sobre o post, eu acho louvável discutir o Nuzman sem partir do pressuposto de incompetência e corrupção. Mas, para mim, você esqueceu do ponto mais importante: a falta de alternância de poder. O Nuzman, em si, é um cara que se esconde da imprensa, que está sempre na defensiva, que se esconde para fazer eleições e que só faz bem mesmo politicagem. Mas até aí, infelizmente, muitos dirigentes têm esse perfil. A questão é que é INACEITÁVEL um dirigente, seja quem for, ficar no poder de uma entidade por 17 anos. Alternância de poder é fundamental para qualquer evolução política. Discussão de idéias, coisa completamente inexistente no COB. Daí, pensar que o sujeito não faria nada de bom em 13 anos, realmente seria um exagero, mas ele fez muito pouco.
    Também não entendi a sua colocação sobre o "rouba mas faz". Qual sua opinião sobre isso? Que tudo bem? Eu discordo totalmente se for isso. Acho que essa mentalidade tem de ser completamente extinta do país. Comemoro quando o "rei" desse tipo de política recebe apenas 300 mil votos numa eleição em São Paulo. Isso não cabe mais no Brasil. O Nuzman e o Ricardo Teixeira representam o coronelismo político nas entidades esportivas brasileiras. Nem na Bahia existe mais isso, como provou essa recente eleição em Salvador. O fato é que ser crítico do Nuzman está longe de ser "chatice" da imprensa. Nós, jornalistas, temos sim que criticar essa forma antiquada de política. E isso em favor do esporte brasileiro, não contra. Abs.

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  2. Fala Renato,
    então, realmente sou totalmente contra o rouba mais faz. Soi expressei minha opinião linkando o que aconteceu.

    Também sou contra um dirigente ficar 17 anos no poder, mas está na lei, o que tem que modificar é a lei, que nem eles estão tentando!

    Não morro de amores pelo Nuzman mas também acho que ele foi muito importante para o esporte. Conseguiu provar ao governo que vale a pena investir no esporte.

    Mas, é um canalha. Como você bem disse, se esconde, foge dos problemas, que nem fez ontem no senado.
    Sou contra ele continuar no poder, mas a favor de lembrar os bons e os maus dele nesses anos de poder.

    Porém, repito, quero ele fora do COB por estar lá há tanto tempo e por estar se enrolando cada vez mais!

    Um abraço, é muito bom discutir esporte!

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  3. Sem dúvida, discutir esporte é bom e fundamental. Achei engraçado como após essa absurda atuação do Nuzman no senado, pouca gente da imprensa discutiu de fato o caso. Preferiram debater sobre o jogo do SP ser ou não em Gama. Mas ok. Por isso achei muito bacana da sua parte levantar esse debate.
    Com relação ao Nuzman, tenho certeza de que ele não dá a menor liberdade para as pessoas "discutirem esporte", rs. A não ser que sejam "pró-Nuzman". Vc deve ter lido a matéria do Estadão de domingo e de terça sobre o Maria Lenk. Eu tb estive no Pan, consigo ver prós e contras (apesar de ser um absurdo um torneio de softball não encerrar, muitas coisas boas aconteceram) e lhe pergunto: construir um complexo do dobro do tamanho porque o Maria Lenk, construído para o "Pan-Olímpico", não está pronto para os Jogos não é um afronte a nossa inteligência? E mais, o que tem sido feito com os equipamentos caros comprados para os jogos, como os aparelhos de levantamento de peso, etc? Aparecer para falar que o Brasil tem condições e gastar 10 milhões em Pequim para fazer propaganda de 2016 o Sr. Nuzman faz bem. Mas organizar decentemente um evento e trabalhar com a base do esporte nacional não faz parte das prioridades dele. Uma pena. Enquanto ele fica 17 anos seguidos no poder, aproveitando os louros do cargo, um Paulo Scala fica dez anos se matando entre trabalho e treinos para ganhar 1000 reais por mês. Uma pena! Grande abraço. Continue com o bom trabalho.

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  4. É é o "Rouba mas faz" é boa !


    BR

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