domingo, 26 de outubro de 2008

Entrevista com Rogério Romero

Rogério Romero é um dos únicos nadadores da história a disputarem cinco olimpíadas. Além disso, ficou em todas elas entre os 16 melhores, tendo o melho resultado o sétimo lugar em Sydney, quando foi o único atleta brasileiro individual da natação à chegar à uma final.
Em termos de Pan-americano, ficou com o ouro em 1991, em Havana, e em 2003, em Santo Domingo.

O atleta, que em 27 anos de carreira bateu 29 recordes sul-americanos e 41 recordes brasileiros além de ter sido 15 vezes campeão dos 200m costas no Troféu Brasil de Natação e
Deca-campeão sul-americano nos 200m costas, falou sobre diversos assuntos, entre eles a participação brasileira em Pequim: "Li uma estatística após Pequim dizendo que 50% das caídas na água foram melhoras pessoais - um índice de fazer inveja".

Além disso, foi susinto ao falar da atual presidência da CBDA de Coracy Nunes, que já dura cerca de 20 anos, e disse simplesmente que tanto tempo no poder não é benéfico ao esporte.

Abaixo, a entrevista na íntegra.

Guiherme Costa: Você parou de nadar há alguns anos. Que diferença que existe no apoio aos atletas do momento que você começou a nadar, nos anos 1980, para os atletas de hoje?
Rogério Romero: Certamente o apoio financeiro aumentou, o que acabou proporcionando uma maior "vida útil" ao atleta. Por outro lado, não vejo tanta diferença na mudança de comportamento dos atletas e considero - posso até estar sendo polêmico - que o apoio familiar diminuiu.

GC: Você é um dos únicos nadadores do mundo a nadar cinco olimpíadas, e ficou entre os 16 melhores em todas as edições. Como você se sente com esses invejáveis números?
RR: Dever cumprido é o sentimento. Treinei, investi e pude ter a felicidade de estar com excelentes equipes, técnicas e posteriormente de amigos.

GC: O esporte é movido por ídolos. Você começou a nadar em função de ver algum ídolo nadando?
RR Na verdade não. Naquela época, quando iniciei aos 5 anos, esta idade ainda não tinha vontade própria :-) No entanto, acabei gostando e também valorizando grandes nadadores brasileiros, como Ricardo Prado e Djan Madruga. Ver provas emociaonantes é algo que me atrai até hoje.

GC Você conhece olimpíada como ninguém na natação brasileira. O que você acha que aconteceu com Lucas Salatta e Guilherme Guido, para ficar no nado que era sua especialiadade, que ficaram um pouco distante de suas respectivas melhores marcas,que poderia os levar para uma final olímpica?
RR Salatta e Guido, seus tempos falam por eles próprios, são excelentes costistas. Li uma estatística após Pequim dizendo que 50% das caídas na água foram melhoras pessoais - um índice de fazer inveja. Apesar disso, estar bem, naquele exato momento olímpico, exige, além de um treinamento preciso, um condicionamento emocional. Some isso ao fato de que ambos atingiram patamares de resultados mundiais, e temos a dificuldade de melhora. Para se ter uma idéia, consegui abaixar meu tempo nos 200m costas apenas em Seul (em Barcelona cheguei a 2 centésimos e em Sydney um pouco mais que isso).

GC Sem entrar no mérito de ser uma boa ou má gestão, o que você acha de o Coracy Nunes estar no poder dos Desportos Aquáticos há mais de 20 anos?
RR Não acho razoável nem saudável nenhuma gestão por tanto tempo.

GC Alguns atletas de outras modalidades acham que o Brasil não pode ser sede da olimpíada, por não estar na hora ainda. Você torce e acha que o Rio de Janeiro consegue abrigar o maior evento do mundo?
RR Acho que o Rio tem condições de receber sim os Jogos Olímpicos e o momento parece ser o mais apropriado para isso.

GC Vimos nas olimpíadas Dara Torres ganhando medalha com 41 anos, vimos você nadar uma semi final olímpica com 34 anos. Em contra partida temos Ian Thorpe se aposentando com 24 anos. A natação é um esporte para "jovens" ou para os mais experiêntes?
RR Considerando o sentido mais amplo, a natação é um esporte para todas as idades! O fato de alguns perdurarem mais que outros deve-se a uma série de fatores, entre os quais aquele que acho mais relevante: gostar. Pois, independente da idade, do apoio, do resultado, se a pessoa ainda se sente bem naquele ambiente e pode continuar, porque parar?

GC Como você vÊ o atual momento da natação brasileira, com relação á resultados, divulgação na mídia, eventos internacionais acontecidos aqui?
RR Com as medalhas olímpicas de Cielo, a natação entra em um outro patamar na mídia. Claro que a Pan de Thiago auxiliou nisto também, mas esta geração mostra que existem talentos dos mais diversos, como a finalista olímpica Gabriella Silva. Aproveitar este potencial para gerar novos atletas deve ser o caminho a ser perseguido por aqueles que lidam com a administração esportiva.

Um comentário:

  1. As declarações de Rogério Romero mostram toda a experiência adquirida, ao logo dos anos, e que não deve ser desprezada por motivo algum.

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