domingo, 20 de novembro de 2011

Parapan

Pela primeira vez fiz a cobertura de um evento paraolímpico. Fiquei aqui em Guadalajara depois do Pan para cobrir o Parapan, também pela TV Record. Sou "especialista" em esporte olímpico, até por isso não postei nada sobre o Parapan aqui no blog, mas acho que vale um registro da experiência profissional e pessoal que tive por aqui.

O Brasil venceu o Parapan sem maiores dificuldades, com quase 200 medalhas, 81 de ouro. Mas hoje não vou falar de marcas, pódios, medalhas.

Cobrir um evento paraolímpico é uma experiência de vida. Você demora para entender como o cara sem dois braços e uma perna consegue nadar. Você se impressiona como algumas vezes o atleta cego enxerga muito melhor que você.

Algumas cenas me marcaram muito. Uma americana da natação que anda com a mão, um atleta da bocha que não mexe nem o pescoço e joga a bola com a boca. Uma judoca que é cega, surda e consequentimente tem muita dificuldade de falar. Enfim, cenas chocantes para aqueles que, como eu, não estão acostumados. A primeira sensação é de pena, que é um dos piores sentimentos que podemos ter.

Mas depois passa esse sentimento, você entende que aquela pessoa, apesar de todos os problemas, é uma pessoa normal, que vive, ri, tem namorada, filho, faz compras, usa computador, faz coisas que todas as pessoas fazem. Normalmente.

Os cegos do judô queriam ir na balada depois da medalha. No início estranhei, mas poxa. São pessoas normais que querem se divertir. E devem ter se divertido muito na noite de Guadalajara.
A Paola, do basquete, tem 20 anos e não tem uma perna. Fizemos uma matéria com ela. Ela é modelo e faz dança do ventre. Isso mesmo, dança do ventre, com a prótese.
A Terezinha do atletismo, 100% cega e cuida da sua aparência como ninguém, tem até vendas estilizadas, com desenhos de beijos, bolinhas etcc...

E o melhor é rir dos obstáculos que a vida colocou. Num treino de judô, na corrida de aquecimento, um dos atletas cegos bateu de cara com tudo na parede, abriu a testa, sangrou bastante. A risada foi geral, inclusive do próprio atleta, não teve nenhum constrangimento, nada.

No volei sentado, o banco de reservas estava lotado de próteses, devia ter umas 15 pernas lá. Aí passou um dos jogadores e disse:" Ó o estacionamento de pernas. Tem um aí que
ocupa mais espaço no banco que na quadra".

O clichê de que os atletas paraolímpicos são pessoas fenomenais, que tem uma baita história de vida, superação é totalmente verdadeiro.
Mas o que mais me marcou aqui é a prova que ""eles"" são pessoas absolutamente normais que fazem as mesmas coisas que uma pessoa sem deficiência.

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3 comentários:

  1. Você é fera e tá com a galera Cazão !!! Estamos com saudades, apesar de você não ter palavra e comer apenas caesar salad no new dog....

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  2. Gui,
    Você conseguiu perceber isso em alguns dias de evento. Tem gente que passa a vida toda sem ter essa experiência ou não querendo enxergá-la.
    Nossos atletas nos enchem de orgulho, seja conquistando um medalha, ultrapassando um obstáculo ou nos ensinando a viver.
    Obrigada por dividir conosco essa experiência!
    Parabéns a todos os atletas brasileiros!!! E que venha a paraolimíada...

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  3. Casão, vou aproveitar o gancho pra postar minhas experiências: - Repórter: Vamos ver o seu desempenho aqui em Guadalajara. - Lucas Prado (corredor cego): Eu não posso dizer o mesmo! / - Repórter: Começou bem? - Daniel Dias (nadador): Comecei com a perna esquerda, já que eu só tenho essa!

    Abs, Michel Cury

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