terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Esporte à esporte- Provas de fundo da natação

A evolução brasileira na natação é nítida. Todos os recordes masculinos em piscina longa caíram ou em 2007 ou em 2008, excessão feita as provas de fundo dos 800m e 1500m. Aliás, esses recordes tem respectivamente 30 e 11 anos. Isso, num período em que a natação evoluiu espetacularmente no mundo inteiro, com avanços tecnológicos e recordes batidos anualmente.

No feminino, o recorde dos 1500m persiste desde 2001 e dos 800m foi batido esse ano por Poliana Okimoto, mas é muito distante do recorde sul-americano.
Nas provas de 400m, considerada também de fundo, os recorde brasileiros foram quebrados rescentemente, com Armando Negreiros e Monique Ferreira. Os resultados, porém, ficam longe de tempos competitivos internacionalmente.

A opinião de Luiz Lima, atual recordista dos 1500m livre brasileiro, campeão pan-americano em 1999 e participante dos Jogos Olímpicos de 2000, é que falta muita coisa para as provas de fundo voltarem a render resultados " O que acontece é que não é uma natação espalhada a nível de conhecimento técnico. São poucos atletas que praticam sério com acompanhamentos necessários."

Pedro Junqueira, ex-nadador do Minas Tênis Clube dos anos 70, aposentado precocemente das piscinas, pesquisador e aficionado da natação e história, escreveu no site bestswimming sobre o assunto. " Os 1500m é uma prova que se tem que querer encarar. Muito mais volume de treinamento, ciclos mais longos entre picos, mais solidão com os ladrilhos, menos conversa e oba-oba da rotina dos velocistas, e uma atenção mais personalizada dos técnicos. No Brasil, nos aperfeiçoamos no treinamento dos velocistas e dos estilistas, mas desconfio que ficamos pra trás na atenção aos fundistas. Tanto o Pinheiros como o Minas TC não produzem um fundista a altura de seus melhores velocistas ou estilistas. A Unisanta tem sido a casa brasileira dos fundistas."

Quando o assunto é clubes, percebe-se que o Pinheiros, grande campeão da natação comtemporânea brasileira não dá a mínima importância para essas provas. Poucos são os fundistas que são do E.C Pinheiros, que tem apenas Poliana Okimoto, que atualmente é especialista em maratonas aquáticas, como atleta de ponta.

"Poucos clubes dominam a natação atualmente, apenas Pinheiros, Minas e Unisanta disputam títulos e quando se tem pouco, acaba tendo que dar ênfase em provas de velocidade. È mais fácil achar um velocista que um fundista, pois precisa de um conhecimento técnico e são poucos que conseguem" diz Luiz Lima, que atualmente nada a prova dos 5km de maratonas aquáticas.

Mas o estranho é que é unanimidade quando dizemos que os atletas que estão aí são talentosíssimos. "Eu não tenho muita idéia de por que que o nível não está alto, mas vai começar a evoluir, você vai ver" prometeu Marcus Butega, de 17 anos, representante brasileiro no mundial da juventude em julho passado.

Nos últimos cinco a seis anos, vários candidatos fizeram rotação como nossos melhores fundistas. Primeiro o Bruno Bonfim, depois o Armando Negreiros, o Conrado Chede, um pouco do Felipe May, o Luiz Rogério Arapiraca, o Lucas Kaninsky, e mais algum outro. Mas mais uma década se passou e ninguém chegou a entrar convincentemente em território próximo dos tempos feitos por seus veteranos, Luiz e Djan, de eras passadas. Nos 1500m, não conseguimos sequer nos distanciarmos da barreira dos 15m30s, nível alcançado por nadadores como Angelotti e Jucá, há respectivamente 12 e 25 anos atrás. Nos 400m livre, Negreiros teve sucesso em elevar a barra um pouquinho mais alto ano passado.

Atualmente, o melhor tempo brasileiro do ano é de Lucas Kaninsky que nadou 15min28s, 11s acima do recorde de Luiz Lima de 1999. O atual recordista, entretanto, rasgou elogios ao atleta
" Muito bom, estatura ótima, é um atleta que tem todas as condições de bater meu recorde". Nos 800m, Armando Negreiros nadou em 8min10s e ainda está a quase 10s do recorde de Djan Madruga, que permanece desde 1979. Essa marca, entretanto, só está há tanto tempo pois na época de Luiz Lima não era disputada nos mundiais, então o atleta carioca não dava tanta ênfase na prova, que tem o melhor tempo de 8min01s conquistados em 1998.

No mundial juvenil, disputado no meio do ano no México, nenhuma final e nenhum nadador seu tempo. Felipe Cunha fez 16min15s18 nos 1500m e 8:21:75 nos 800m enquanto Lucas nadou em 15:42:35 e 4min00s98 nos 400m . Mascos Botega foi um pouco melhor nos 400m, baixando pouco dos 4 minutos.
Nos 400m, Isabelle Longo fez 4min20s99 ficando em 16º e 8min59s22 nos 800m, ficando longe da final, mas mostrando ter um futuro promissor.
Sempre bom lembrar que as provas de 1500m, no feminino, e 800m, no masculino, não são disputados em olimpíadas, apenas em mundiais em campeonatos nacionais. Porém, neste ano, a FINA pediu ao Comitê Olímpico Internacional para incluir essas provas no programa. Na minha opinião acho um pouco difícil, mas pode acontecer.
Na natação feminina, Piedade Coutinho foi nossa grande estrela olímpica em Berlim, em 36, e em Londres, em 48, justamente na prova considerada de fundo, na época, entre as mulheres, os 400m livre. Sua performance dupla, um quinto lugar na Alemanha e sexto lugar na Inglaterra, jamais foi igualada por qualquer outra nadadora brasileira em todos os tempos.

No mundial de 2001, Nayara Ribeiro chegou na final dos 1500m, ficando em oitavo lugar, com o tempo de 16min32, marca nunca igualada no Brasil, mas já superada dentro da América do Sul com a chilena Kristel Kobrich. Nos 800m, nenhum resultado expressivo ultimamente, mesmo com o recorde do ano passado de Poliana Okimoto, com 8min41s58.

Nos 400m, Monique Ferreira vem conseguindo baixar seus tempos, marcou 4min12s21 na olimpíada, com recorde sul-americano, mas mesmo assim distante da final.
Nas maratonas aquáticas o Brasil tem uma equipe muito forte, sendo uma das potências da modalidade, mas isso pouco tem a ver com as provas de fundo" É como comparar o futebol de campo com o de salão" resumiu Luiz Lima. Mesmo assim, nossas principais atletas nas provas de fundo são Poliana Okimoto e Ana Marcella Cunha, nadando pelo Pinheiros e Unisanta respectivamente.

Uma história repleta de "craques", que começou com Piedade Coutinho nos longíncuos anos 1930, passou pelo nosso primeiro medalhista olímpico, Tetsuo, bronze em 1952, passou por Djan Madruga, duas vezes quarto colocado em olimpíadas, e seis vezes medalhista no Pan de 1979 culminando com Luiz Lima, ganhador de quatro medalhas em pan-americanos em provas individuais, um ouro e três pratas. Essa história tem que continuar a ser contada e, talentos, temos.

2 comentários:

  1. Guilherme, aqui é Paulo Roberto, editor do Basketbrasil. Estamos precisando de um redator legal que goste de basquete e posso nos ajudar como freelance cobrindo folgas, e gostei do seu texto. Podemos conversar? Meu e-mail é praraujo@hotmail.com

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