sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Entrevista com Alberto Murray

Ele está na mídia atualmente mais do que nunca. Ele tem colocado a boca no trombone e a cara para bater exigindo a prestação de contas do Comitê Olímpico Brasileiro para a sociedade. Alberto Murray foi muito atencioso comigo, como é com qualquer um que deseja falar com ele, e respondeu a uma breve entrevista para o blog Brasilemlondres. Como Murray tem falado bastante com a grande mídia, preferi fazer perguntas que, ao menos que eu tenha visto, não tinham sido respondidas nos jornais, revistas etc..., e que o entrevistado respondeu de forma completa e clara.

Primeiramente, ele me tirou uma grande dúvida. Vi muitos, mas muitos meios de comunicação mesmo, colocando ele como membro do COB, dentre eles o globo.com, o lancenet dentro outros. Perguntei a ele o que ele fazia no ComitÊ Olímpico Brasileiro e a resposta me surpreendeu pois, pelo que é noticiado, parecia que ele era de dentro da entidade " Veja só, eu não trabalho no Comitê Olímpico Brasileiro. Eu sou membro eleito da Assembléia Geral. Não ganho absolutamente nada com isso. Não tenho e nem nunca tive qualquer função executiva naquele Comitê. A assembléia geral encontra-se uma vez por ano, ordinariamente e, extraordinariamente, quando convocada pelo próprio Comitê Olímpico"
Talvez tenha sido ignorância minha mas o fato é que parecia que ele fazia parte da equipe do Comitê. Então, é bom esclarecer.

Uma outra pergunta que eu fiz que, pelo que eu tenha visto, não foi feita pela imprensa foi sobre seu avô, Sylvio Padilha, um dos grandes nomes da história do esporte nacional, que ficou 27 anos presidindo o COB. "Ele ficou 27 anos sim, em momento que para liderar o movimento olímpico, tinha que ter o desprendimento, por exemplo, de empenhar a sua própria casa a um banco para poder levar uma delegação brasileira ao exterior." justificou. Porém, sua frase no final foi cérebre e é para ensinar muita gente: "Quem deve ser forte no exterior não é fulano de tal. Mas o esporte que fulano de tal, naquele período, representa"

No fim da entrevista, se mostrou feliz com o apoio que vem recebendo: "Eu fico muito feliz e honrado em contar com o incentivo de gente tão importante. E eles também contam com meu modesto apoio"
Para ver o blog de Alberto clique aqui
Abaixo, a entrevista na íntegra

Guilherme Costa: A imprensa está te dando, com maior mérito, apoio nesta sua luta no senado. Por que você acha que a mesma imprensa não dá o mesmo apoio para o esporte, se limitando a poucas transmissões, poucas notícias e pouco valor a nossos atletas?
Alberto Murray: Talvez a televisão aberta não dê ao esporte olímpico a atenção necessária. Porém, acho que, atualmente, existem canais de televisão fechada, por assinatura, que suprem essa falta de informação. A ESPN Brasil, por exemplo, tem uma programação maciça voltada ao esporte olímpico. A questão é a maioria do povo não tem acesso à televisão a cabo. Aliás, a ESPN Brasil tem contribuído muito com o esporte olímpico do Brasil realizando documentários excelentes, esclarecedores da real situação que se encontram determinadas modalidades.

GC: Quando e como teve a ""idéia"" de começar a publicar e criticar a própria entidade que trabalha? Em algum momento você pensou duas vezes antes de começar as denuncias?
AM: Veja só, eu não trabalho no Comitê Olímpico Brasileiro. Eu sou membro eleito da Assembléia Geral. Não ganho absolutamente nada com isso. Não tenho e nem nunca tive qualquer função executiva naquele Comitê. A assembléia geral encontra-se uma vez por ano, ordinariamente e, extraordinariamente, quando convocada pelo próprio Comitê Olímpico. Eu vivo no esporte desde que nasci. Há vários anos venho expondo minhas idéias sobre aquilo que penso para o Movimenmto Olímpico do Brasil, em palestras, artigo, e algumas poucas entrevistas de jornais. Em todas elas sempre expus minha opinião, que não tem sido favorável á atual administração da entidade. Na volta de Pequin, ocorreu-me escrever um Blog sobre o assunto, do qual eu entendo e gosto. Esse Blog repercutiu bem, justamente em um momento que o Comitê Olímpico Brasileiro começou a ser quase que diariamente questionado pela imprensa do Brasil inteiro. Não, eu nunca pensei duas vezes em falar, ou escrever o que eu penso. Em realidade, não são denúncias minhas. São coisas que há muito já se fala, apenas não com tanta repecrcussão. Eu analiso e tento aprofundar as questões.

GC: O que você faz no COB? Como começou a trabalhar lá?
AM: Não tenho função executiva alguma. Como disse, sou apenas Membro eleito da Assembléia Geral desde 1.996 (se não me engano), que se reune ordinariamente uma vez ao ano, geralmente para aplaudir o que já está decidido. Nas mais recentes, por razões outsa, sequer apareci. Como lhe falei também, não trabalho no COB. Sou advogado militante, na área de direito de empresarial em São Paulo e minha atividade profissional não tem ligação alguma com o esporte.

GC: Para você, os Jogos Pan-americanos foram um sucesso no Rio de Janeiro?
AM: O super faturamento de 1000% e as críticas severas feitas pelo Tribunal de Contas da União, em seu Relatório e Voto, ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Ministério do Esporte, indicando incompetência e má gestão do dinheiro público ofuscam totalmente qualquer possibilidade de sucesso. Ademais, o legado que ficou para a Cidade foi zero. Eu desafio qualquer a mostrar-me uma só obra de infra-estrutura que foi prometida no dossie de candidatura entregue à ODEPA que tenha sido construída, metro, avenidas, infra-estrutura e outros. E as praças esportivas que sobraram viraram "elefantes brancos". O Parque Aquático maria Lenk não é utilizado para nada, a não ser para algumas competições de alto-rendimento. O ginásio poliesportivo foi alugado a uma agência de promoção e virou uma espécie de salão de festas. O velódromo, como noticiado pela imprensa, está à espera de uma competição. E a pista de atletismo foi destinada a ser o campo de futebol do Botafogo, como se no Brasil já não houvesse tantos campos de futebol. Isso deveria ser utilizado para a população do Rio fazer esportes, lazer, colocar lá escolinhas de esportes, a exemplo do que se faz em São Paulo com o Baby Barioni e o Constânciao vaz Guimarães. Agora estão querendo contratar consultorias, no exterior, para saber o que fazer com aquilo, gastando, com isso, outros tantos milhões de dinheiro do povo. As demais obras esportivas do pan-Americano, embora tenham custado caríssimo, eram temporárias e, assim, não sobrou nada.

GC: Independente do que o Nuzman tem feito atualmente. Ele não seria o perfil ideal para presidir o COB? Um ex-atleta e um dirigente consagrado dentro da CBV. Qual seria o perfil ideal para um presidente do COB?
AM: Na teoria sim. Na prática, hoje, vemos que é um desastre, totalmente repudiado pela imprensa brasileira. O perfil ideal de um Presidente seria aquela pessoa que soubesse aliar o ijcentivo ao alto rendimento, com a necessidade de incentivar projetos sociais. Que cumprisse o artigo 4º do Decreto 5.139/2004, que manda o Comitê licitar tudo o que faz, que não estivesse tão preocupado com o número de funcio´nários que o COB tem, mas, sim, com o Atleta. Alguém que respeitasse a importância do Senado Federal e não se levantasse no início da Sessão Pública e fosse embora. essa postura mostra que a arrogância e o menosprezo pelas críticas transcende qualquer forma respeito à democracia.

GC: Seu avô Sylvio Magalhães foi um grande atleta e dirigiu o COB por 27 anos. Eram outros tempos claro, mas qual é sua opinião sobre isso, independente dos resultados obtidos por ele? Qual é sua opinião atual sobre a perpetuação de dirigentes em cargos, como Nuzman, Grego, entre outros?
AM: Meu avô, Sylvio de Magalhães Padilha, é a maior personalidade olímpica do País. Não sou eu quem digo. Pode-se inferir no exterior. Um homem cuja seriedade de princípios impunha um respeito inigualável. Ninguém tinha sequer coragem de aproximar-se dele para propor alguma coisa errada, excusa. Ele fuzilava o cara só com o olhar. Um idealista e preservador dos ideais solímpicos, que nunca permitiu que o Comitê virasse um órgão voltado aos negócios. Por alguma questão de vaidade, que deveria ser objeto de estudo psicológico, o atual COB tenta fingir que ele não existiu. Ele e os que vieram antes dele. par ser ter uma idéia, vou citar dois exemplos: Quando o atual chefe do COB assumiu o poder, na sede na Rua da Assembléia, ele mandou colocar um poster em cima da placa da inauguração, com os nomes dos seus antecessores no Conselho Diretor. Outra vez, em um Congresso Olímpico realizado em São Paulo, os alunos e professores da Escola de Educação Física da USP resolveram, na abertura, fazer uma homenagem póstuma a meu avô. O presidente deu a ordem que não se aliasse o nome dele ao do Comitê, sob pena de tirar o patrocínio do COM do evento. Isso quem me contou foi a Presidente do Congresso. Os alunos assim mesmo fizaram a homenagem. veja que paranóia. Meu avô foi o primeiro Atleta da América do Sul a ser finalista olímpico em provas de atletismo, em Berlin, 1.936. Ganhou o Troféu helms, de melhor atleta das Américas, em 1.939. No ano seguinte, disputaria as Olimpíadas com chances concretas de medalha, pois em competições com atletas estrangeiros já havia vecido os melhores do mundo. Ainda como Atleta criou o D.E.F.E., que hoje é a Secretaria de Esportes. Regulamentou o esporte em São Paulo. Criou as grandes competições de massa que existem até hoje, Jogos Abertos do Interior, Jogos regionais, Troféu Brasil de Atlestismo (antigo Troféu Ademar de Barros), jogos intercoloniais, Troféu Bandeirantes, Jogos Colegiais. Foi Diretor da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, com um trabalho sempre voltado para o sentido educacional do esporte. Enrou no Comitê Olímpico Brasileiro, como seu Diretor Técnico, em 1.948 e chefiou todas as missões olímpicas brasileiras até 1.988. Fez um Pan-Americano em São Paulo, em 1.963, cujo resultado foi lucro para o Estado. Chegou à Presidência do COB em 1.963. Foi membro do Comitê Internacional Olímpico por muitos anos e até hoje é o único brasileiro a ter sido membro da sua Comissão Executiva e Vice-Presidente. Foi Vice-Presidente e Presidente da organização Desportiva Pan-Americana. Para quem tiver interesse, pode entrar no website http://www.sylviodemagalhaespadilha.com.br/ . Era acima de tudo uma pessoa preocupada com a massificação do esporte, tendo isso como um elemtno muito mais importante do que ficar aí tentando convencer gente de que um número "x" de medalhas é bom. naquela época, o Comitê não tinha dinheiro para nada. Não havia a Lei Piva (se houvesse, tenha a certeza de que a forma de administrá-la seria outra). Quantas e quantas vezes ele não pediu empréstimos a bancos, empenhando seus bens pessoais, para poder levar uma delegação brasileira ao exterior, no peito e na raça. No ano passado a Folha de São paulo fez uma matéria boa sobre isso, quando tratou dos Jogos Pan-Americanos. É claro que na época dele havia críticas. Aliás, tem que haver. Sem críticas a coisa fica morna, chata, sem graça e não temos como melhorar. mas nunca se viu o Comitê questionado por questões envolvendo verbas, licitações, aplicação de dinheiro em festas e outeas coisas. as crpiticas e debates limitavam-se às questões esportivas. Ele ficou 27 anos sim, em momento que para liderar o movimento olímpico, tinha que ter o desprendimento, por exemplo, de empenhar a sua própria casa a um banco para poder levar uma delegação brasileira ao exterior. Mas durante aépoca dele, havia limitação de mandato para os presidentes de Federações e Confederações. Eram quatro anos e uma reeleição de quatro. E o Comitê Olímpico Brasileiro não tinha essa regra, pois era regido pela Carta Olímpica. Hoje, o próprio Comitê Olímpico Internacional limitou os mandatos de seus membros e de seu presidente. O Presidente não pode ficar mais do que doze anos. Os membros novos também têm mandato. O atual Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro não é membro efetivo do Comitê Olímpico Internacional. Ele ocupa uma das vagas destinadas à Presidentes de Comitês Olímpicos nacionais. Se ele sair do COB, automaticamente deixa o CIO. Talvez por isso ele insista tanto em ficar. Sou favorável, sim à limitação de mandatos e acho que o projeto de lei que tramita no senado deve ser aprocado rapidamente. Essa justificativa de que o dirigente se não ficar muito tempo no poder não ganha prestígio no exterior é uma coisa que inventaram agora, para ver se cola. Quem deve ser forte no exterior não é fulano de tal. Mas o esporte que fulano de tal, naquele período, representa.

GC: Você acha que as eleições das confederações e do COB deveriam ser feitas com votos de todos os atletas cadastrados?
AM: Não com todos os Atletas cadastrados. Mas os Atletas deveriam, sim, ter direito a voto. Deve ser encontrada uma fórmula que se eleja, decraticamente, um representante dos Atletas (escolhidos pelos próprios Atletas) e que o peso desse representante dos Atletas nas eleições das Federações, Confederaões e do COB tenham um peso "x", de, pro exmplo, três votos. É necessário discutir uma forma justa de os Atletas terme voz e voto nas eleições.

GC: Qual é sentimento de está sendo apoiado por tantos e tantos jornalistas, atletas, blogueiros, como mostram os blogs do Juca e do Alex Pussieldi?
AM: Ambos são batalhadores pela ética no esporte. O Juca eu conheço pessoalmente. É um cara absolutamente a favor do esporte e que vai fundo nas coisas, que não faz média com ninguém, Eu detesto fazedor de média. O Alex eu conheço pelo Blog dele. Eu fico muito feliz e honrado em contar com o incntivo de gente tão importante. E eles também contam com meu modesto apoio.

Um comentário:

  1. O Alberto é alguém que respeito muito. O conheço bem desde a época academica, quando nos conhecemos em reuniões da Federação Universitária Paulista de Esportes. Eu vinculado a Atlética da Cásper Libero (jornalismo) e ele a da São Francisco (direito). A partir dali cresceu uma admiração pelo colega de esporte, pelo estudioso do olimpismo e especialmente pelo caráter do ser humano que é Alberto Murray Neto. Ele tem um vinculo com o esporte, desde sua infancia, estimulado pelo avô, que antes de administrador esportivo foi um dos maiores atletas deste país. Sylvio de Magalhães Padilha foi finalista olímpico dos 400m com barreiras em Berlim'36 e pouco reconhecido por este grande feito. Lembro que ele viveu a época 'miserável' do amadorismo no Brasil. Alberto cresceu como cidadão e advogado, mas não voltou as costas ao esporte. O blog dele merece ser visitado (http://albertomurray.wordpress.com), pois lá podemos ver muito além da maqueagem bonita que o atual olimpismo brasileiro quer retratar através da politica conveniente do COB e seu co-irmão, o Ministério dos Esportes. Voz ativa que tem de ser ouvida e refletido seus pensamentos e informações.
    Fica aqui meu registro!

    Everton Domingues

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