terça-feira, 10 de julho de 2012

Passaporte Carimbado- Basquete masculino

A classificação olímpica brasileira que resultou na maior festa por aqui foi a do basquete masculino que, depois de 16 anos, voltará a disputar os Jogos Olímpicos. Mais que isso, a seleção brasileira está como todos os jogadores da NBA e tem, sim, chances de medalha. Vai estar no bolo.

"Estou feliz de estar de volta, o grupo já se conhece faz tempo, está todo mundo unido, está gostoso. A gente sabe que tem potencial para medalha" disse Varejão para mim na semana passada, quando a seleção estava aqui em São Paulo treinando. Varejão sempre foi sinônimo de seleção brasileira, jogou machucado no mundial de 2010 e em 2011 se reuniu com o time, se concentrou, mas não participou da campanha do pré olímpico por estar machucado.

Ao contrário de Leandrinho e Nenê, tão criticados por todos por não terem atendido a algumas convocações nos últimos anos, inclusive a do pré olímpico das Américas. "Eu não fui pro pré olímpico pois estava com problemas no pulso" comentou Leandrinho, que justificou tantas ausencias em entrevista há três semanas aqui em São Paulo " A mídia é um ponto de informação, nem sempre o que a gente fala sai na imprensa. Me senti injustiçado. Eu fui ameaçado pelo time, era uma faca de dois gumes. Seu eu fizesse cirurgia, não ia poder voltar 100%, então decidir ficar parado. Foi triste"

Nenê esteve em menos convocações ainda, sempre com "problemas pessoais". Em entrevista ao Esporte Fantástico da TV Record, no dia em que eu estava no treino, ele lembrou do filho e explicou o porquê de não ter aceito a convocação para o pré olímpico: "Ano passado, optei em ficar ao lado do meu filho, é um momento especial para mim. Eu estava com problema do câncer também. Quis acompanhar o desenvolvimento do meu filho, eu queria estar com ele".

O grande nome dessa volta do Nenê à seleção se chama Ruben Magnano. Foi ele que foi até o pivô, conversou, foi saber o que ele quer e o que não quer, o porquê do pedido de dispensa. E aí conseguiu trazê-lo de volta para a "amerilinha": "Conversei com o Ruben, é uma pessoa de um grande coração. Foi olho a olho, tech a tech. Coloquei minha situação e tivemos um diálogo profundo".

Leandrinho estava um pouco reticente quanto a recepção que teria dos colegas: " Tinha um pouco de medo não sabia como ia ser, o que ia passar na cabeça deles. Mas senti sinceridade de todos, estou bem aqui" comentou.

Conversei também com outros atletas e, claro, todos disseram que não tem problemas nenhum com o jogador do Indiana Pacers. " O Leandrinho é gente boa, está muito bem vindo" comentou Marquinhos. " Todo mundo conhece o Leandrinho, não tem problema nenhum, pelo amor de Deus" disse Guilherme Giovanonni.

O time está formado. Possivelmente, o técnico Ruben Magnano entrará em quadra com Marcelinho Huertas, Alex, Leandrinho, Varejão e Nenê. E, se o time for esse mesmo, terá um banco de alta qualidade com Tiago Spliter, Marquinhos e Giovanoni, que estão bem. Na minha opinião, ainda falta um armador a altura para substituir Huertas em alguns momentos do jogo. Raulzinho é jovem e muito bom, Larry está se adaptando a seleção, mas ainda pecam em momentos importantes.

"Estamos todos muito tensos e treinando forte. Vão ser muitas seleções brigando pela medalhas e nós vamos fazer nossa parte, treinar duro e observar as jogadas que o Ruben propôs" disse Marquinhos que, para mim, será o sexto homem da seleção em Londres.

Conversei com os atletas antes do grupo do Brasil ser totalmente definido. "A tendência é que a gente vá brigar pela primeira posição do grupo com Austrália e principalmente Espanha' afirmou Marquinhos, dias antes de saber que a Rússia seria o sexto país da chave.

Um consenso entre todos é que todas as equipes estão fortes. " É difícil falar até onde podemos chegar, são oito, nove países que estão na briga direta pelo pódio. Mas nossas chances são boas" avalia Guilherme Giovanoni.

O Brasil estreará contra Austrália, depois jogará com os donos da casa, Rússia, China e Espanha. Se o Brasil realmente quiser lutar pelo pódio, não pode pensar em hipótese nenhuma em perder para Grã Bretanha e China. O jogo contra a Austrália terá suma importância pois se o Brasil perder, além da falta de confiança que dará ao time, começará a desenhar um caminho tortuoso nas quartas-de-final já que provavelmente o quarto colocado da chave pegará os EUA nas quartas.

"Primeiro temos que pensar em nos classificarmos, depois em nos classificarmos bem para fugir de um confronto mais complicado. O jogo das quartas-de-final vai definir se vamos disputar medalha ou não" disse Varejão.

Acho que o principal ponto que pega para a seleção brasileira são os últimos dois minutos das partidas. O Brasil ainda não tem a "bola de segurança" que a Argentina tem no Manú e no Scola, que o Miami tem no LeBron James. "O mais importante é o grupo tá bem. Na hora da decisão, o Magnano vai falar para quem passar a bola" disse Varejão quando eu perguntei sobre os momentos decisivos da partida.

Vamos voltar um pouco no tempo. No mundial de 2010, o Brasil teve três jogos decididos nos últimos dois minutos e os três saiu derrotado, contra os EUA, Eslovênia e Argentina. No pré olímpico do ano passado, dos três jogos que foram cesta a cesta durante todo o tempo, o Brasil perdeu dois, um para Dominicana e outro para Argentina. Não vou esquecer da histórica vitória sobre os hermanos, na classificação, mas concordam que um desempenho de uma vitória e cinco derrotas nessas partidas não é bom?

Nenê, que hoje é um dos melhores pivôs 5 do mundo, confia na conquista da medalha e não acha que falta um nome de decisão: " O grupo é talentoso, jovem e com a experiência necessária. Todo mundo está num ótimo momento, vamos trabalhar pela medalha. Vai ser uma Guerra" disse. Ele está com um problema no pé que o incomoda ainda, mas ele garante que vai estar em na Olimpíada.


O Brasil, na minha opinião, entra no grupo dos que brigam pelo bronze. EUA está acima de todos, Espanha abaixo e aí depois cinco ou seis seleções no bolo. Rússia, Lituânia, França, Argentina e Brasil. O jogo que vai decidir tudo, claro, será as quartas-de-finais. É esperar para ver.

A série Passaporte Carimbado falará das chances de cada um dos atletas brasileiros que vão a Londres. Objetivo é entrevistar TODOS que vão em esportes individuais e uma boa parte dos que vão em coletivos. 

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